O presidente argentino, Mauricio Macri, e o candidato Alberto Fernández emitiram, nesta quarta-feira, mensagens conciliadoras, em uma tentativa de acalmar os mercados, que despencaram e ameaçam aprofundar a crise econômica da Argentina, após o revés eleitoral do mandatário nas primárias de domingo.
"Minha tarefa é garantir a governança. O diálogo é o único caminho. A incerteza causou muitos danos e nos obriga a sermos responsáveis. Quero transmitir paz de espírito neste processo eleitoral que começou", disse o presidente em uma mensagem divulgada antes da abertura dos mercados.
Mais tarde, Macri contou nas redes sociais que teve uma "boa e longa conversa" com Alberto Fernández. "Ele prometeu colaborar em tudo o que for possível para que esse processo eleitoral e a incerteza política que isso gera afetem a economia o mínimo possível", escreveu no Twitter.
A conversa também foi destacada por Fernández, que afirmou em uma coletiva de imprensa que tem "toda a vocação de falar de falar e ajudar a superar esse trauma".
Em reação às primárias, em que a chapa de Fernández com a ex-presidente Cristina Kirchner obteve 47% dos votos, na segunda-feira a moeda argentina se desvalorizou quase 20%, e a Bolsa de Buenos Aires caiu 38%, enquanto ações e títulos argentinos despencavam em Nova York. Algumas consultorias especulam sobre o risco de uma moratória.
"Nossa proposta não representa riscos de moratória, mas uma lógica de funcionamento diferente", declarou Fernández, criticando o governo por semear "dúvidas inexplicáveis" nos mercados internacionais "dizemos que éramos como a Venezuela".
Nesta quarta, a moeda argentina continuou a perder valor, fechando cotada a 62,18 pesos por dólar. A Bolsa fechou com queda de 1,86%.
- Aumento salarial -
Macri anunciou nesta quarta aumentos salariais e cortes de impostos, em uma tentativa de recuperar o apoio da população para as eleições presidenciais de outubro, alterando suas políticas de austeridade.
O presidente, que nas primárias conseguiu apenas 32% dos votos, anunciou modestos bônus salariais, redução de tributos para os trabalhadores e congelamento do preço da gasolina por 90 dias.
Além disso, haverá um aumento no salário mínimo, atualmente de 12.500 pesos (208 dólares) e que está abaixo do custo da cesta básica, cujo valor ainda não foi especificado.
Segundo Fernández, as medidas para estimular o consumo não são ruins, "mas neste contexto é muito arriscado. Desejo que dê certo", afirmou. Para ele, Macri se encontra "em uma condição muito complexa de candidato e presidente. Peço-se que priorize a de presidente".
As medidas vão se estender até o fim do ano e terão um custo fiscal de 40 bilhões de pesos (665 milhões de dólares). Macri, que termina o mandato em 10 de dezembro, está cumprindo um programa de forte ajustei, acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um crédito de 56 bilhões de dólares.
- 'Cansados' -
Os argentinos, que já estão afetados por uma inflação de 22,4% entre janeiro e junho, temem um novo golpe devido à desvalorização da moeda. Em junho, no acumulado de 12 meses, somou 55,8% - uma das mais altas do mundo.
"O que lhes pedi foi muito difícil, foi como escalar o (monte) Aconcágua. Estão afetados e cansados. Chegar ao fim do mês se transformou em uma tarefa impossível", admitiu o presidente sobre seus três anos e meio de governo.
A intenção do governo é que as medidas atinjam 17 milhões de trabalhadores e suas famílias, bem como pequenas e médias empresas.
"Refletem a necessidade de focar nos setores que foram mais afetados pela crise econômica e que viraram as costas ao presidente nas primárias. Mostram a necessidade de recuperar ao menos uma parte desses eleitores", avaliou Paula García Tufro, especialista do Atlantic Council.
* AFP