
O doloroso silêncio, uma grande operação de segurança, detenção de ativistas e censura na internet marcaram nesta terça-feira (4) os 30 anos da feroz repressão na Praça da Paz Celestial, em Pequim, na China, onde uma grande manifestação foi dispersada brutalmente com o uso de tanques e soldados em 4 de junho de 1989.
Em um dia cinza e nublado, a polícia verificava documentos de identidade de cada turista e cada passageiro que saía da estação de metrô nas proximidades da praça. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, elogiou o "heroico movimento de protesto" que agitou "a consciência das pessoas amantes da liberdade ao redor do mundo", ao mesmo tempo que criticou o governo chinês.
— Durante as décadas seguintes, os Estados Unidos esperaram que a integração da China ao sistema internacional levasse a uma sociedade mais aberta e tolerante. Essas esperanças se viram frustradas — disse Pompeo. — O Estado chinês de partido único não tolera nenhuma dissidência e viola os direitos humanos — completou, em um momento de grande tensão política e comercial entre os dois países.
A embaixada chinesa em Washington reagiu acusando Washington de "atacar seu sistema e depreciar suas políticas" com comentários "por preconceito e arrogância" sobre os acontecimentos na Praça Celestial.
O porta-voz da embaixada destacou que Pompeo usou "o pretexto dos direitos humanos" para dar uma declaração que "interfere grosseiramente nos assuntos internos da China, ataca seu sistema e desprestigia suas políticas internas e externas".
— Qualquer um que tentar subestimar e intimidar o povo chinês terminará na gaveta do esquecimento da história — afirmou o porta-voz.
A União Europeia (UE) recordou as vítimas da repressão.
— Trinta anos mais tarde, a União Europeia segue chorando pelas vítimas e expressa condolências às famílias — afirmou a chefe da diplomacia do bloco, Federica Mogherini.
Nesta terça-feira, a Praça era ocupada por centenas de pessoas, incluindo crianças com a bandeira chinesa sobre os ombros dos pais, que formaram fila para passar pelos controles policiais e entrar no local para a cerimônia de içamento da bandeira.
Há 30 anos
Na noite de 3 de junho de 1989, soldados sufocaram a revolta, após sete semanas de manifestações e greves de fome de estudantes e operários que pediam o fim da corrupção e mais democracia.

O número exato de mortos é desconhecido. Dois dias depois do massacre, o governo informou "quase 300 mortos", incluindo militares, na repressão do que qualificou de "distúrbios contrarrevolucionários".
O embaixador do Reino Unido na época falou de 10 mil mortos e a Cruz Vermelha Chinesa, de 2,7 mil. Em geral, segundo dados hospitalares, estima-se que houve entre 400 e mais de mil mortos.
O governo chinês impõe o silêncio sobre o tema na imprensa, na Internet, nos livros, nas apostilas escolares e nos filmes, exceto em raras ocasiões, em que se descreve o massacre com um eufemismo: "a agitação política do ano 1989". Durante os últimos 30 anos o governo censurou qualquer discussão sobre protestos ou repressão. Atualmente há diversas câmeras de segurança em toda área Praça da Paz Celestial.