Heroína para os migrantes, um "pé no saco" para o ministro do Interior italiano de extrema direita Matteo Salvini, a jovem capitã do barco humanitário Sea Watch, Carola Rackete, desafiou as duras regras contra a migração na Itália para desembarcar 42 migrantes esgotados.
Cabelo preto amarrado num rabo de cavalo, olhar confiante, a primeira mulher capitã de uma embarcação humanitária, nasceu há 31 anos em Kiel, na costa báltica do norte da Alemanha.
A jovem adquiriu experiência ao navegar em quebra-gelos especiais para a pesquisa polar no Ártico e na Antártida.
Depois de estudar ciências marinhas e proteção ambiental na Alemanha e no Reino Unido, a capitã está navegando há oito anos.
"Desde sempre sou apaixonada pelas regiões polares, porque são muito bonitas e inspiradoras, mas trabalhar lá é triste porque você vê o que os seres humanos estão fazendo com o planeta", confessou em um vídeo divulgado pela organização humanitária alemã Sea-Watch.
De seu compromisso com a defesa do meio ambiente nasceu o compromisso social, que a levou a aproveitar suas férias para trabalhar com a ONG alemã, cujos tripulantes são voluntários.
Sua primeira missão foi em 2016, quando a flotilha humanitária passou a ser considerada um apoio valioso aos vários barcos militares italianos e europeus que realizavam o resgate de migrantes ao largo da costa da Líbia.
As tragédias no mar marcaram as missões de ajuda a barcos que naufragaram, com poucos sobreviventes no meio de cadáveres flutuando.
Nos últimos anos ouviu muitas histórias de tortura, abusos e agressões sofridas pelos migrantes que esperam zarpar a partir dos campos de refugiados na Líbia.
Pouco a pouco, os barcos militares pararam de prestar assistência e os humanitários, que estavam na linha de frente, passaram a ser considerados cúmplices dos traficantes de seres humanos pelo governo italiano.
- Disposta a ir para a prisão -
Para ela, é uma questão de princípio: "Não importa como você acabou numa situação de perigo. Os bombeiros não se importam com isso, os hospitais também não. Para a lei marítima isso também não importa. Se alguém precisa ser resgatado no mar, você tem o dever de resgatá-lo", explicou.
"A ajuda termina quando você deixa as pessoas em um lugar seguro", acrescentou.
Desde que o governo populista chegou ao poder na Itália em junho de 2018, a questão da migração é basicamente um assunto político.
"Nós, europeus, permitimos que nossos governos construíssem um muro no mar. Existe uma sociedade civil que luta contra isso e eu faço parte dela", resumiu Rackete.
"Eu tenho as habilidades, a oportunidade e o privilégio de estar em uma posição onde posso realmente ajudar", acrescentou.
A mulher no comando do Sea-Watch diz que cumpriu rigorosamente a lei marítima, algo confirmado por outros capitães de renome, como Gregorio De Falco, famoso por ter intervindo para resolver o desastre do Costa Concordia em 2012.
"Estou disposto a ir para a prisão e vou me defender no tribunal, se necessário, porque o que estamos fazendo está correto", acrescentou.
Ao entrar na quarta-feira em águas italianas com 42 migrantes a bordo por duas semanas, apesar da proibição do ministro, ela desafiou Salvini e sua política linha-dura.
"Qualquer pessoa que viole as regras de um país tem que responder por isso. Isso vale para essa capitã encrenqueira do Sea-Watch que está fazendo política com as vidas dos migrantes", lançou Salvini.
Nas redes sociais, muitos elogiavam a coragem da jovem alemã. "Oh, capitã, minha capitã!", escreveram ironicamente brincando com o apelido que os militantes de extrema direita utilizam para Salvini: "Oh capitão, meu capitão".
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* AFP