TEL AVIV, ISRAEL (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, parece ter comemorado antes da hora os resultados das eleições parlamentares de 9 de abril. No poder há dez anos, cantou vitória depois que seu partido, o Likud, conseguiu 35 das 120 cadeiras do Knesset, o Parlamento em Jerusalém. Pensou que seria fácil costurar uma nova coalizão de governo. Não foi, e o país anunciou novo pleito.
Todos os prazos expiraram --o derradeiro, nesta quarta-feira (29), à meia-noite (18h de Brasília)-- sem que um acordo fosse fechado. Ao longo do dia, os parlamentares --que tomaram posse há um mês, em 30 de abril-- discutiram a dissolução do Parlamento e a convocação imediata de novas eleições em 17 de setembro.
Em meio à intensa movimentação de bastidores, Netanyahu tentava desatar o imbróglio político que levou a um dos momentos de maior incerteza e nervosismo político da história de Israel.
No fin, a dissolução do Knesset foi aprovada após três votações-relâmpago, e Israel vai às urnas pela segunda vez em menos de seis meses.
Netanyahu parecia ter controle da situação após o pleito de abril, mas deparou-se com outro peso-pesado da política israelense, o ex-ministro da Defesa e ex-chanceler Avigdor Lieberman, líder de um partido que conseguiu apenas cinco cadeiras, mas que se tornou o fiel da balança para a formação do novo governo.
Sem o partido de Lieberman, o ultranacionalista Israel Nossa Casa, Netanyahu não tem o mínimo de 61 cadeiras necessárias para criar a próxima coalizão de direita desejada pelo premiê.
Ciente disso, Lieberman jogou. De um lado, Netanyahu fechou acordos com partidos ultraortodoxos --aliados fiéis-- para aliviar o alistamento militar de jovens ultrarreligiosos. De outro, Lieberman, um conhecido desafeto de Netanyahu, fincou pé na ideia de aprovar uma lei aumentando o alistamento, desejo antigo do eleitorado secular israelense.
"Vamos às urnas porque o Likud não aceitou votar pela Lei do Alistamento. Não seremos parte de um governo de Halachá [leis religiosas judaicas]", disse Lieberman.
Após a votação, Netanyahu criticou Lieberman, afirmando que ele é parte da esquerda. "Vamos às eleições devido à ambição de um homem só. Isso é totalmente kafkiano."
O premiê também havia buscado o apoio do Partido Trabalhista --legenda esquerdista historicamente rival ao Likud e que conseguiu seis cadeiras nas últimas eleições.
Oferecia, em troca, a promessa de que não buscaria a aprovação de uma lei de imunidade política diante da iminente ameaça de indiciamento contra ele em três casos de corrupção. Mas nenhuma de suas tentativas deu certo.
Nascido em Kishinev (Moldova), Lieberman se estabeleceu na política israelense como líder dos 1,5 milhão de moradores de repúblicas da antiga União Soviética que imigraram para Israel desde 1990 --a grande maioria seculares.
Lieberman quer se estabelecer como líder forte de todos os seculares em um país em que o debate sobre a influência da religião na política é cada vez mais latente.
"Uma das bases da política israelense é a demonstração de força. Lieberman não podia voltar atrás e decepcionar eleitores", analisa o professor Eyal Winter, da Universidade Hebraica de Jerusalém.
As novas eleições devem custar aos cofres públicos ao menos US$ 100 milhões, sem contar a influência negativa da incerteza política na economia. Tudo indica, porém, que Netanyahu voltará a vencer e talvez consiga uma coalizão com mais facilidade.