A rebelião que teve início na madrugada de terça-feira (30) na Venezuela deve continuar nesta quarta-feira (1º), Dia Internacional do Trabalho. Pela manhã, o líder oposicionista Juan Guaidó voltou a incitar a população pelas redes sociais para derrubar o regime de Nicolás Maduro. No Twitter, ele publicou mensagem na qual diz "hoje continuamos" e "seguimos com mais força que nunca", além de indicar pontos de concentração para os manifestantes.
Guaidó busca aumentar a pressão nas ruas contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro, após o fracasso de um levante militar que aumenta a possibilidade de sua prisão. Apesar de evocar novas passeatas para esta 1º de maio — "a maior da história" do país —, ainda é preciso ver como seus seguidores reagirão após a insurreição fracassada na terça-feira para depor Maduro.
Um levante liderado por Guaidó na terça não conseguiu abalar o apoio da cúpula militar a Maduro, que também convocou seus militantes a marcharem nesta quarta-feira em direção ao palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, por ocasião do Dia dos Trabalhadores.
O movimento opositor perdeu força quando o alto comando militar reiterou lealdade ao líder chavista. Vinte e cinco militares rebelados solicitaram asilo na embaixada do Brasil em Caracas, enquanto Leopoldo López, libertado pelos rebeldes de sua prisão domiciliar e com quem Guaidó liderou o levante, refugiou-se com sua família na legação da Espanha.
Ao proclamar a derrota de seus adversários, Maduro advertiu que a "escaramuça golpista" não ficará impune, sem mencionar diretamente seu oponente.
Guaidó está na mira da Justiça desde que foi despojado de sua imunidade parlamentar pela Assembleia Constituinte, que o acusa de "usurpar" as funções presidenciais.
Milhares de pessoas se juntaram na terça ao líder opositor na base aérea de La Carlota, na capital, onde Guaidó anunciou a insurreição com um pequeno grupo de militares. Distúrbios foram registrados em várias cidades, com um saldo de um morto e dezenas de feridos, de acordo com organizações de direitos humanos.
"Último erro"
Após a insurreição fracassada, os Estados Unidos alertaram o ministro da Defesa, o general Vladimir Padrino, de que ele está diante da "última oportunidade" de romper com Maduro.
Segundo John Bolton, assessor de segurança do governo americano, Padrino havia prometido apoiar a "derrubada" do presidente.
Maduro "tinha um avião na pista, estava pronto para partir (...) mas os russos disseram que ele deveria ficar", afirmou o secretário de Estado Mike Pompeo à CNN, indicando que o governante estava planejando fugir para Havana.
Guaidó defendeu essa versão, mas Maduro negou:
— Até onde vai a falta de seriedade, a insensatez, a loucura, a mentira — declarou.
A Casa Branca, que nesta quarta-feira reiterou que uma ação armada "é possível", se necessária, alertou em várias ocasiões que prender Guaidó seria o "último erro da ditadura".
— Uma ação militar é possível. Se for necessário, é o que os Estados Unidos farão — disse Mike Pompeo à Fox Business.
Enquanto isso, Rússia, Síria, Irã, Turquia, Bolívia e Cuba, aliados do governo socialista de Maduro, rejeitaram o levante apoiado por Guaidó.
"Como um país que lutou contra golpes de Estado e sofreu as consequências negativas causadas por golpes, condenamos a tentativa de golpe na Venezuela", escreveu o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no Twitter, enquanto a Rússia acusou a oposição venezuelana de "alimentar" o conflito na Venezuela.
O cientista político Luis Salamanca considera que a insurreição buscou "desencadear outras ações militares", mas que o cenário agora é de maior incerteza.
Disputa pelo apoio dos militares
Guaidó afirma que as fissuras abertas pela revolta mostram que Maduro não controla mais as Forças Armadas.
— Há soldados dispostos a defender a Constituição, e há muitos mais — garantiu.
Salamanca estima que Maduro e Guaidó embarcaram plenamente em uma disputa pelo apoio dos militares, pilares do presidente.
Segundo especialistas, Maduro teria dado aos líderes militares ampla participação na gestão das receitas do petróleo.
— A luta agora é para conquistar os militares. Alguns foram conquistados por Guaidó, mas a alta cúpula ainda está do lado do governo — expressou o analista.
O agravamento da crise econômica, com a entrada em vigor de um embargo americano sobre o petróleo venezuelano, irá causar um desgaste nas fileiras militares, observa Salamanca.
Guaidó, engenheiro de 35 anos, proclamou-se presidente interino em 23 de janeiro, depois que o Poder Legislativo, de maioria opositora, declarou que Maduro usurpou o cargo ao assumir um segundo mandato em 10 de janeiro, resultado de "eleições fraudulentas".