SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Milícias ligadas ao general Khalifa Haftar continuam avançando em direção a Trípoli, capital da Líbia, e realizaram neste domingo (7) seu primeiro bombardeio contra a cidade, apesar dos pedidos da ONU para que os combates sejam interrompidos na região.
Ao menos 21 pessoas foram mortas desde que o líder rebelde iniciou sua ofensiva contra a capital, sede do GNA (o governo provisório do país), reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.
Haftar e a milícia que ele comanda, o Exército Nacional Líbio (ENL), já capturaram três cidades próximas a Trípoli (Gharyan, Surman, e Aziziya) e afirmam também ter o controle do aeroporto que serve a capital, o que o GNA nega.
Em uma escalada das tensões, o governo provisório de Trípoli anunciou também uma contraofensiva contra as forças rebeldes em todo o país, em uma operação que chamou de "Vulcão da Ira". Com isso, alguns moradores da capital afirmaram que suas casas foram atingidas pelo fogo cruzado.
Chefe do governo interino, Fayez al Sarraj advertiu para uma "guerra sem vencedores", em discurso na televisão. "Estendemos nossas mãos para a paz, mas após a agressão de parte das forças pertencentes a Haftar, a única resposta será a força e a firmeza", disse ele ao anunciar a contraofensiva.
O país atualmente está dividido entre o GNA em Trípoli, que comanda a parte leste do país e tem o reconhecimento internacional, e o governo de Tobruk, que domina a região oeste e tem o apoio do ENL, a milícia de Haftar. Há ainda regiões controladas por grupos menores, além de uma área com atuação do grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Na quinta (4), o general anunciou que daria início a uma ofensiva contra a capital, em uma tentativa de unificar o comando do país antes do início das negociações de paz patrocinadas pela ONU, marcadas para acontecer entre 14 e 16 de abril em Gadamés, no sudoeste do país.
O enviado da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, disse no sábado (6) que a conferência se mantém, apesar da ofensiva contra Trípoli.
Neste domingo, a ONU fez um "apelo urgente" para que os confrontos em Trípoli fossem interrompidos por duas horas para que os feridos e a população civil pudessem ser retirados, mas a trégua foi ignorada pelos dois lados e os combates continuaram a apenas 11 quilômetros do centro da capital.
Analistas afirmam que o real objetivo de Haftar é fortalecer seu próprio nome como o único capaz de acabar com o caso que a Líbia vive desde a derrubada do ditador Muammar Gaddafi, em 2011, na esteira da Primavera Árabe.
Desde então, milícias rivais disputam o poder. Os tumultos reduziram severamente a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para militantes islâmicos, incluindo o EI.
O conflito entre rebeldes e o governo fez ainda com que os Estados Unidos anunciassem a retirada de suas tropas da Líbia.
Não há informações de quantos soldados americanos estavam no país ou quais atividades realizavam. Nos últimos três anos, forças americanas, além de francesas e inglesas, foram enviadas à Líbia para combater exatamente o EI.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que "não há justificativa para a ação do ENL conta Trípoli. "Nós vamos usar todos os canais para encorajar a calma e impedir um banho de sangue", afirmou ele. O governo italiano também disse estar preocupado com a situação no país.
Segundo o jornal britânico The Guardian, Roma está irritada com o governo francês, que apoiou Haftar e os rebeldes. Neste domingo, o próprio Sarraj pediu explicações a embaixadora francesa na Líbia, Béatrice du Helle, sobre a posição do país no conflito.
Os Emirados Árabes Unidos, que ao lado da Arábia Saudita e o Egito apoiam Haftar, também pediu que moderação de todos os lados no conflito.