Depois de dois dias de manifestações pacíficas, venezuelanos que estão em Pacaraima entraram em confronto na tarde deste sábado (23) com militares do Exército de Nicolás Maduro. O conflito aconteceu na fronteira, que está fechada desde a noite de quinta-feira (21).
Por volta de 17h30min, um grupo formado por jovens mascarados começou a atirar coquetéis molotov e pedras contra o cordão de militares. Após os primeiros arremessos, uma estrutura de alvenaria utilizada pelos militares pegou fogo. Áreas de vegetação também foram incendiadas, provocando grandes colunas de fumaça.
Os militares reagiram atirando bombas de gás e efeito moral. Sem conseguir que os manifestantes recuassem, passaram a dar tiros de arma de fogo e com balas de borracha.
Ao menos um venezuelano ficou ferido. Ele foi deixado na base militar brasileira.
O deputado Luís Silva, do Movimento da Unidade Democrática (MUD), partido de Juan Guaidó, afirmou que quatro pessoas morreram em confrontos com as forças militares venezuelanas. Três dessas mortes foram confirmadas pela médica socorrista Carla Cevita, que trabalha na região.
Ela não soube passar detalhes sobre as vítimas, e acrescentou que ao menos 23 pessoas ficaram feridas durante os enfrentamentos entre parte da população com o exército de Nicolás Maduro. Nove seriam transferidos ao Brasil.
Embora a fronteira esteja fechada, a passagem de veículos de socorro é permitida.
Nos primeiros deslocamentos, cinco cidadãos do país vizinho foram levados ao hospital, todos em estado grave. Com poucos funcionários, a instituição solicitou ajuda de militares. Depois dos primeiros atendimentos, os venezuelanos devem ser levados à capital Boa Vista, que fica a 200 quilômetros de distância.
Outro responsável por socorrer as vítimas, o diretor de Proteção Civil de Bolívar, Alberto Brito, relatou que os enfrentamentos se intensificaram nos últimos dois dias em Santa Elena, a primeira cidade após a fronteira do Brasil.
— A situação é grave, muitas pessoas com ferimentos de tiros, de pedradas. Os conflitos com o Exército ocorrem em todas as partes — relatou o socorrista, cuja atividade é independente do governo da Venezuela.
Políticos e outros apoiadores do líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, relatam “massacres” em comunidades venezuelanas nos últimos dias. Responsável por acompanhar a tentativa de envio de ajuda humanitária pelo Brasil, Tomaz Silva disse nesta sexta que parlamentares que fazem oposição a Maduro estão noticiando os conflitos.
— A todo momento recebo mensagens relatando conflitos. A população está sofrendo com a repressão de Maduro, que insiste em não permitir a entrada de ajuda humanitária — relatou.
Silva foi destacado para acompanhar a situação de Pacaraima por María Teresa Belandria, representante no Brasil de Guaidó. Segundo ele, os conflitos se intensificaram porque a população está nas ruas do país pressionando Maduro pela liberação de medicamentos e alimentos enviados por países como Brasil, Colômbia e Estados Unidos.
Em Boa Vista, estão armazenadas cerca de 200 toneladas de alimentos enviados pelos governos brasileiro e norte-americano. As autoridades estão com dificuldade de conseguir levar o material à fronteira porque o transporte só pode ser feito por veículos e motoristas venezuelanos. Por ordem de Maduro, eles estão proibidos de atravessar a fronteira. Os dois caminhões de pequeno porte que levaram parte dos mantimentos para Pacaraima só chegaram a Boa Vista porque os motoristas utilizaram caminhos alternativos, em áreas de morros e vegetação.