O governo de Theresa May ganhou com vantagem estreita uma moção de censura nesta quarta-feira (16), após a derrota retumbante na véspera de seu acordo do Brexit - mas o caos político está instaurado a apenas 72 dias da saída prevista da União Europeia (UE).
A moção de desconfiança, como também é chamada, foi apresentada na véspera pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, e rejeitada por 325 deputados, contra 306.
Na terça, May tinha sofrido a pior derrota imposta pelo parlamento a um governo britânico na história recente do país: 432 deputados - entre eles, 118 de seu próprio Partido Conservador - votaram contra seu acordo de Brexit, que conseguiu apenas 202 apoios.
Contudo, no dia seguinte, tanto os rebeldes conservadores como o pequeno partido unionista norte-irlandês DUP - do qual depende a maioria parlamente dos Tories - deixaram claro que não querem deixar o governo e a negociação do Brexit na mão dos trabalhistas.
- 'Westminster está um caos' -
Reforçada, pelo menos por ora, pela evidência de que seus próprios deputados rebeldes querem que fique à frente da árdua tarefa de tirar o país da UE, May voltará na segunda-feira ao Parlamento com um plano B.
Antes, afirmou, abrirá um diálogo com os líderes da oposição.
"Gostaria de convidar os líderes de partidos parlamentares para me encontrarem individualmente e gostaria de começar essas reuniões nesta noite", disse May ao Parlamento.
"Vou escutar os pontos de vista da câmara, entender os pontos de vista dos parlamentares para identificar o que poderia ter o apoio da câmara e cumprir o referendo", que em 2016 decidiu pelo Brexit, tinha dito May antes do início dos debates.
Andrea Leadsome, representante do governo no Parlamento, defendeu na BBC que "o acordo da primeira-ministra é bom". "Temos que encontrar a forma deste acordo, ou parte dele, ou um acordo alternativo, isso é negociável, possa ser apresentado à UE para concretizar o Brexit em 29 de março", acrescentou.
Mas se May continuar a insistir em defender seu acordo, é possível que pró-europeus e eurocéticos também se afinquem em suas respectivas posições.
"Westminster está um caos", afirmou o deputado nacionalista escocês Ian Blackford. "O plano B será o plano A, mas servido com um molho diferente", disse, sugerindo a May pedir para Bruxelas adiar a data do Brexit e consultar os britânicos em um segundo referendo.
Em carta publicada nesta quarta, mais de 70 deputados trabalhistas também defenderam a organização desta segunda consulta popular, rejeitada pela chefe de governo, mas que Corbyn deve respaldar se não conseguir provocar eleições legislativas antecipadas.
- 'Obstinada' -
"A bola agora está no campo de Westminster. Este problema começou em Westminter com o referendo do Brexit, nós encontramos uma solução, eles rejeitaram essa solução", criticou o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar.
"Agora, têm que encontrar algo que possam conseguir aprovar no Parlamento, mas também tem que ser algo que a UE e a Irlanda possam aceitar", acrescentou.
Cada vez mais preocupada com as catastróficas consequências econômicas de um Brexit sem acordo, a principal patronal britânica, a Confederação da Indústria Britânica (CBI), pediu que se encontre um novo plano "imediatamente".
Na opinião de Anand Menon, professor de Política Europeia n King's College London, a primeira-ministra, "que é obstinada, voltará ao Parlamento e tentará de novo".
"Acho, porém, que a magnitude dessa derrota fará a UE se questionar se vale a pena fazer concessões, dado o número de deputados, os quais a primeira-ministra tem de convencer", acrescentou Menon.
Hoje, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que "ainda temos tempo para negociar" um acordo sobre o Brexit, e o presidente francês Emmanuel Macron admitiu que "talvez possam melhorar um ou dois pontos" do texto.
Apenas o presidente da UE, Donald Tusk, ousou sugerir, porém, que Londres pode simplesmente dar marcha a ré.
"Se um acordo é impossível, e ninguém quer um Brexit sem acordo, quem terá, enfim, o valor de dizer qual é a única solução positiva?", tuitou.
* AFP