Uma tentativa de golpe de Estado levada adiante por um grupo de soldados fracassou nesta segunda-feira (7) no Gabão, cujo presidente, doente, está ausente do país há dois meses e meio e onde o Executivo se limita a administrar os assuntos correntes.
Pela primeira vez na história do Gabão, às 6h30 locais (3h30 em Brasília) desta segunda-feira, um grupo de militares leu uma mensagem na rádio pública, anunciando a criação de um Conselho Nacional de Restauração frente à ausência do presidente Ali Bongo, internado no Marrocos.
Poucas horas mais tarde, a tranquilidade havia voltado, e a situação estava sob controle, informou o porta-voz do governo, Guy-Bertrand Mapangou.
"A tranquilidade voltou, a situação está sob controle", disse o porta-voz à AFP, acrescentando que, do comando de cinco militares que invadiram a emissora pública de rádio e televisão na madrugada desta segunda convocando uma sublevação, "quatro foram detidos, e um está foragido".
As forças de segurança foram enviadas para a capital e vão permanecer na cidade nos próximos dias para manter a ordem, acrescentou o porta-voz.
A AFP constatou a mobilização da guarda republicana em torno do edifício da Rádio Televisão Gabonesa (RTG). O porta-voz do governo anunciou ainda que as fronteiras do país continuam abertas.
A União Africana (UA) "condenou fortemente" a tentativa de golpe.
"Reafirmo a rejeição total da UA de qualquer mudança inconstitucional de poder", tuitou o presidente da comissão deste organismo, Musa Faki Mahamat.
Em 24 de outubro, o presidente Bongo, que estava na Arábia Saudita, sofreu um AVC e foi hospitalizado em Riad. Lá, recebeu tratamento por um mês e, depois, foi transferido para Rabat, no Marrocos, onde estaria se recuperando.
Há dois meses, as autoridades dão apenas informações parciais sobre a saúde do presidente, alimentando todo tipo de rumor.
- 'Salvar o país do caos' -
Os militares que lançaram a mensagem por rádio e televisão convidaram a população a "tomar o controle das ruas".
"Todos os homens de alta patente e suboficiais" devem se dotar de "armas e munições" para "tomar o controle" dos pontos estratégicos em todo o país de prédios públicos e aeroportos, convocava a mensagem.
Os militares também pediram ao apoio da sociedade para "salvar o Gabão do caos".
A mensagem foi lida por um militar, rodeado por outros dois. Ele se apresentou como tenente Ondo Obiang Kelly, da Guarda Republicana, e disse presidir o Movimento Patriótico de Jovens das Forças de Defesa e Segurança do Gabão (MPJFDS), até agora desconhecido.
Em 31 de dezembro, pela primeira vez desde sua internação, o debilitado presidente Bongo tomou a palavra, falando de Rabat. Sua declaração por ocasião do Ano Novo foi classificada de "vergonha" pelos militares do MPJFDS.
Em 2009, o presidente gabonense sucedeu ao pai, Omar, após seu falecimento. Foi reeleito em 2016, em eleições questionadas pela oposição. Omar Bongo dirigiu o Gabão, um país petroleiro, de 1967 até sua morte.
* AFP