O Parlamento britânico iniciou, nesta quarta-feira (9), cinco dias de tensos debates sobre o controverso acordo do Brexit apresentado pela primeira-ministra Theresa May, após infligir dois novos reveses com os deputados determinados a retomar o controle do processo.
Após ser adiada em dezembro pelo Executivo, temendo uma derrota estrondosa, a histórica votação, que deve decidir sobre uma das legislações mais importantes para o país nos últimos 50 anos, foi marcada para 15 de janeiro.
Até lá, os ministros de May se esforçarão para acalmar as preocupações dos que se opõem ao texto: os eurocéticos denunciam concessões "inaceitáveis" à União Europeia (UE), enquanto os pró-europeus acham as condições piores que as atuais, como membro do bloco.
A sessão desta quarta-feira foi aberta com a intervenção do ministro para o Brexit, o eurocético Stephen Barclay.
"Apresentarei mais salvaguardas" à câmara para o "caso de ser preciso ativar o 'backstop'", afirmou, tentando tranquilizar os deputados sobre o ponto mais polêmico do acordo - o mecanismo destinado a evitar uma fronteira dura entre Irlanda do Norte e República da Irlanda.
Foi a forte oposição a este mecanismo que motivou o adiamento em dezembro, mas desde então nada parece ter mudado.
"A primeira-ministra não está trazendo outra vez exatamente o mesmo acordo que admitiu que seria rejeitado há algumas semanas?", questionou o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, na sessão anterior de perguntar a May.
"Temos um bom acordo na mesa e estamos buscando esclarecimentos" da UE, respondeu May, lembrando que desde meados de dezembro estão em contato com diferentes líderes europeus.
"Essas negociações continuarão nos próximos dias", acrescentou a premiê, garantindo que apresentará novas garantias "antes de a Câmara votar o fim deste debate".
- Prazo de três dias -
Contudo, antes mesmo do início do debate, May sofreu sua segunda derrota em dois dias: com 308 votos a favor e 297 contra, foi aprovada uma emenda que obriga o Executivo a apresentar um plano B no prazo de três dias, se o acordo for rejeitado na terça. Até então, esse prazo era de 21 dias.
A menos de três meses da data do Brexit, 29 de março, os deputados queriam impedir que o governo "perca tempo", para colocar o Parlamento diante do dilema de aprovar seu texto, ou condenar o país a uma saída da UE sem acordo, de consequências caóticas.
Os legisladores ainda teriam a possibilidade de apresentar emendas e um eventual plano B, o qual iria da convocação de um segundo referendo até a possibilidade de se descartar o risco de um Brexit sem acordo.
Justamente para impedir esta última opção, na noite desta terça, 303 deputados - contra 296 - aprovaram uma emenda à Lei de Finanças que dificultaria, na via fiscal, a implementação das medidas necessárias para uma saída brutal da UE.
Diante da proximidade da data do Brexit e da previsão de que o acordo negociado por May será rejeitado, cresce também a especulação sobre a possibilidade de pedir um adiamento à UE.
"Estamos convencidos de que Theresa May pedirá um adiamento após a rejeição do acordo no Parlamento britânico, mas ela não diz, nem publicamente, nem em seus contatos com interlocutores europeus", disse à AFP uma fonte diplomática em Bruxelas.
* AFP