Um homem explodiu um carro-bomba na quinta-feira (17) em uma academia de polícia no sul de Bogotá. Pelo menos 21 pessoas morreram, e 68 ficaram feridas no "ato terrorista insano" - informou o governo, que atribuiu o ataque ao ELN.
As autoridades trabalham na identificação dos corpos e temem que o número de óbitos possa aumentar. Pelo menos 58 feridos receberam alta.
O autor foi identificado pelo Ministério Público como José Aldemar Rojas Rodríguez, de 56 anos, de nacionalidade colombiana. Ele entrou às 9h30 local (12h30 de Brasília) em uma caminhonete cinza Nissan Patrol de 1993 na Escola de Oficiais General Francisco de Paula Santander, no sul da capital colombiana.
De acordo com uma fonte do MP, Rojas Rodríguez morreu no ataque.
"Este ato terrorista insano não ficará impune. Os colombianos nunca se submetem ao terrorismo, sempre o derrotamos. Esta não será a exceção", disse o presidente Iván Duque em declaração à imprensa ao lado do procurador-geral, Néstor Humberto Martínez.
O governo colombiano atribuiu a autoria do atentado aos guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN).
"Um ato terrorista cometido pelo ELN matou essas vidas jovens", afirmou o ministro da Defesa, Guillermo Boetero, que disse haver "plena evidência" de que Rojas Rodríguez era membro do ELN há mais de 25 anos.
Duas equatorianas estão entre as vítimas, a cadete Erika Chicó, que morreu, e Carolina Sanango, que sofreu ferimentos leves.
Dois cadetes panamenhos ficaram feridos no atentado, de um grupo de 45 alunos da academia procedentes do Panamá, informou o presidente panamenho, Juan Carlos Varela.
O veículo, que, segundo o MP, tinha passado por uma revisão em julho de 2018 em Arauca (fronteira com a Venezuela), explodiu durante uma cerimônia de promoção de oficiais e cadetes.
"Ouvi como se o céu tivesse caído na minha cabeça. Foi uma explosão muito grande e, quando saí, tinha muita fumaça", disse Rocío Vargas, vizinha do local.
Segundo relatos da polícia, um cão farejador detectou os explosivos. Quando foi descoberto, Rojas acelerou o carro e atropelou um policial. Três militares foram atrás do veículo que, segundos depois, explodiu.
Esse é o pior ato de terror na capital colombiana desde fevereiro de 2003, quando os rebeldes do atual partido Farc detonaram um carro-bomba no clube El Nogal. Trinta e seis pessoas morreram, e dezenas ficaram feridas, nesse episódio.
- 'Não vamos ceder' -
Diante do ataque, o presidente Duque precisou voltar às pressas para Bogotá, após cancelar um evento de segurança em Quibdó (noroeste). O governo decretou três dias de luto nacional.
"Eu dei ordem às forças militares e à polícia nacional para mobilizar todas as suas capacidades de Inteligência e determinar, em coordenação com o Ministério Público, quem é responsável por este ataque covarde e impedir qualquer ação criminosa", disse.
Ele também alertou: "Nunca vamos ceder a atos de terror, a Colômbia é firme e não se intimida".
Duque, que assumiu o cargo em agosto de 2018, tem endurecido a política de combate às drogas no país, maior produtor de cocaína do mundo, e estabeleceu condições para reavivar as negociações de paz com o ELN, última guerrilha ativa no país.
Além do ELN - que, no passado, admitiu ataques com explosivos contra a polícia -, também operam no país gangues de narcotráfico de origem paramilitar e dissidências das Farc, que lutam pelo controle territorial em meio a uma espiral de violência seletiva contra líderes sociais, que já deixou 438 mortos desde janeiro de 2016.
Há um ano, a polícia também foi alvo de um ataque a bomba dentro de uma delegacia em Barranquilla. Seis militares morreram e 40 ficaram feridos. Dias depois, o ELN, cuja delegação de paz está em Havana, assumiu a ação.
- Solidariedade internacional -
Do escritório da ONU na Colômbia até os Estados Unidos, passando pelo governo da Venezuela - com o qual Bogotá congelou as relações - e pelas Farc, autoridades do mundo todo condenaram o ato e expressaram solidariedade.
O papa Francisco também condenou o "cruel" atentado, de acordo com um telegrama divulgado nesta sexta pelo Vaticano. Na carta, dirigida ao cardeal Rubén Salazar, arcebispo de Bogotá, o papa expressa "seu mais profundo pesar pelas vítimas que perderam a vida em uma ação tão desumana".
No telegrama, assinado pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, em nome do sumo pontífice, Francisco "condena mais uma vez a violência cega" e "eleva sua oração ao Senhor para que ajude a perseverar na construção da harmonia e da paz nesse país".
Com cerca de 8 milhões de habitantes, Bogotá foi abalada por atos esporádicos de terror em 2017. Em fevereiro daquele ano, o ELN assumiu a responsabilidade por um ataque a uma patrulha policial que matou um soldado e feriu gravemente vários outros no bairro de Macarena, em Bogotá.
Nesse mesmo ano, um ataque em um centro comercial de Bogotá deixou três mortos e vários feridos. As autoridades acusaram o Movimento Revolucionário do Povo (MRP), um grupo de esquerda.
* AFP