O enviado especial dos Estados Unidos para a reconciliação no Afeganistão, Zalmay Jalilzad, anunciou nesta segunda-feira (28) que foi alcançado nas negociações de Doha um "esboço" de acordo com os talibãs para pôr fim a 17 anos de conflito no país.
"Temos o esboço de acordo que ainda deve ser concluído para se tornar um acordo", declarou nesta segunda ao New York Times em Cabul, aonde chegou no domingo para informar às autoridades afegãs sobre os seis dias de negociações com os representantes talibãs no Catar.
"Entramos em acordo sobre o princípio de algumas questões muito importantes", declarou Jalilzad na noite de segunda, de acordo com um comunicado transmitido pela embaixada dos Estados Unidos em Cabul.
"Ainda há muito trabalho a fazer antes de poder dizer que conseguimos", disse, acrescentando no entanto que "pela primeira vez" foram obtidos "avanços significativos".
O secretário interino de Defesa americano, Patrick Shanahan, afirmou à imprensa que as negociações são "animadoras", antes de se reunir com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Restam, no entanto, muitos obstáculos para alcançar um possível acordo.
Para os talibãs, a primeira condição para qualquer negociação é "a retirada das forças estrangeiras do Afeganistão".
"Enquanto (esta) questão não for objeto de acordo, será impossível progredir em outros âmbitos", havia informado o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, após os encontros de Doha.
Os Estados Unidos, ao contrário, querem se assegurar de que o Afeganistão não voltará a ser uma base para grupos extremistas que lançar ataques contra países estrangeiros.
Zalmay Jalilzad disse ao New York Times estar tranquilo sobre este ponto: "Os talibãs se comprometeram, para nossa satisfação, a fazer tudo o necessário para evitar que o Afeganistão se torne uma plataforma para grupos ou indivíduos terroristas", explicou, sem dar maiores detalhes.
- "Negociações sérias" -
Nesta segunda, o presidente afegão, Ashraf Ghani, exortou os talibãs a "iniciarem negociações sérias" com Cabul, o que os insurgentes sempre recusaram, pois consideram ao governo como uma "marionete" de Washington.
"Exorto aos talibãs (...) a demonstrar sua vontade afegã, que aceitem a exigência de paz dos afegãos e começar diálogos sérios com o governo afegão", declarou em tom solene em um discurso televisado do palácio presidencial de Cabul.
"Queremos a paz, a queremos de forma rápida, mas a queremos com um plano", asseverou Ghani. "Não esqueçamos que as vítimas desta guerra são afegãos e que o processo de paz deve ser dirigido pelos afegãos. Não queremos repetir os erros do passado!", acrescentou, fazendo alusão a episódios da turbulenta história do país.
Jalilzad assegurou ao chefe de Estado afegão que "um diálogo entre afegãos" é para os Estados Unidos a única solução para uma paz duradoura no Afeganistão. "Meu papel consiste em facilitar as conversas entre afegãos", acrescentou.
A duração destas negociações sem precedentes em Doha aumentaram a esperança de que um acordo entre os talibãs e os Estados Unidos possa se constituir na base para conversas formais de paz com o governo de Cabul.
Entre os pontos de atrito estão a questão de um cessar-fogo e um calendário para a retirada das tropas americanas do país.
O presidente americano, Donald Trump, parece ter pressa para retirá-las: no fim do ano passado, manifestou a intenção de retirar a metade dos 14.000 soldados deslocados no Afeganistão no âmbito de uma coalizão da Otan, liderada por Washington.
O país mantém no Afeganistão a guerra mais longa de sua história, desde sua intervenção em 2001 para derrubar o regime dos talibãs. Mas são os afegãos, civis e militares, que pagam o preço mais alto deste conflito.
* AFP