O governo francês de Emmanuel Macron anunciou nesta terça-feira (4) a suspensão de várias medidas fiscais para tentar sair da crise provocada pelos protestos dos "coletes amarelos", que derivaram em violentos confrontos, mas as medidas foram consideradas insuficientes pelos manifestantes, que convocaram novas mobilizações.
Encurralado por uma crise que chegou ao seu auge no sábado, o Executivo fez algumas concessões, esperando que estas bastem para acalmar a fúria dos manifestantes que sacodem o país há três semanas.
O encarregado de anunciar as três medidas com as quais o governo espera "restaurar a paz e a serenidade no país" foi o primeiro-ministro, Edouard Philippe.
O plano, acordado na segunda-feira à noite durante uma reunião de crise com Macron, inclui a suspensão por seis meses do aumento de um imposto aos combustíveis, o congelamento das tarifas de luz e gás durante o inverno e o abandono de um plano para endurecer as revisões técnicas dos automóveis mais poluentes.
Estas medidas significarão uma perda de dois bilhões de euros para os cofres públicos, equivalente a 0,1 ponto do PIB. Isto sem contar que o movimento dos "coletes amarelos" tem tido um duro impacto na economia em apenas algumas semanas.
Entretanto, o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, afirmou que o governo "manterá seu objetivo de redução da dívida pública".
- Vaias e gritos de 'renuncie' -
O aumento do impostos dos combustíveis, que entraria em vigor em 1º de janeiro, foi o estopim dos protestos dos chamados "coletes amarelos", que nasceu em meados de novembro nas redes sociais, sem líder nem estrutura.
"Nenhum imposto merece pôr em perigo a unidade da Nação", argumentou Edouard Philippe, que pediu ao coletivo, que convocou novos protestos para sábado, para se manifestar "com calma".
A subida do imposto sobre os combustíveis não será aplicado "antes de ser discutido entre todas as partes envolvidas", detalhou Philippe, que anunciou um acordo a nível nacional entre 15 de dezembro e 1º de março para "completar" e "melhorar" estas medidas.
"Se não as encontrarmos, tiraremos as conclusões", acrescentou, dando a entender que o governo poderia simplesmente abandonar o aumento desta taxa.
Macron se mantém em silêncio desde o seu retorno do G20, no domingo.
Nesta terça-feira, recebeu um membro dos "coletes amarelos" no Palácio do Eliseu e, mais tarde, visitou os locais incendiados da cidade de Le Puy-en-Velay (leste). Segundo imagens do jornal local Le Progrès , em sua saída foi vaiado por uma multidão ao gritos de "Renuncie!".
A popularidade do presidente mais jovem da história da França, de 40 anos, atingiu patamares mínimos. Apenas 23% (-6%) dos entrevistados disseram aprovar sua ação, segundo uma pesquisa Ifop-Fiducial.
- 'Não queremos migalhas' -
Esta é a primeira vez que Macron retrocede ante a pressão das ruas. Mas estas concessões podem ser insuficientes para acalmar os ânimos dos franceses, que expressam um cansaço geral com sua política fiscal e social.
Apesar de um grupo de manifestantes ter suspendido o bloqueio de um depósito de combustíveis em Brest (oeste), após considerar as medidas do governo "satisfatórias", outros mantêm o ritmo.
"Os franceses não querem migalhar", disse à AFP Benjamin Cauchy, uma das figuras dos "coletes amarelos", que ampliaram as suas reivindicações. Pedem, entre outras coisas, o aumento do salário mínimo e da aposentadoria.
A oposição mantinha a mesma linha. "Muito pouco e tarde demais", considerou o vice-presidente do partido conservador Os Republicanos, Damien Abad.
- Novas manifestações? -
Enquanto issos, as convocações para se manifestarem no sábado, no quarto dia de protestos nacionais, se mantinham nas redes sociais.
Duas partidas de futebol, PSG-Montpellier e Toulouse-Lyon, previstas para sábado, foram adiadas.
Éric Drouet, um dos porta-vozes mais visíveis dos "coletes amarelos", pediu aos franceses que "voltem a Paris" no sábado e se reúnam "perto dos locais de poder, a avenida Champs-Élysées, o Arco do Triunfo e a Praça da Concórdia", em frente à Assembleia Nacional.
"As pessoas estão cada vez mais motivadas, estão se organizando, seremos ainda mais numerosos", disse à AFP.
"A dinâmica do movimento é tal que não é certo que as medidas anunciadas possam detê-lo", considera Jérôme Sainte-Marie, cientista político da pesquisadora PollingVox.
O ministro do Interior, Christophe Castaner, anunciou que enviará mais forças de ordem neste sábado, depois que a oposição estimou que a mobilização minimizou no fim de semana passado.
O governo teme também uma extensão dos protestos a outros setores. Nesta terça foram registrados manifestações de estudantes do Ensino Médio. Em Marselha (sudeste), 10 estabelecimentos estavam bloqueados.
* AFP