A disputa pela presidência da Interpol levou, nesta terça-feira (20), a uma disputa entre Estados Unidos e Rússia, na qual Washington respalda "firmemente" o rival do candidato russo, enquanto Moscou denuncia uma "ingerência" americana.
A organização internacional de cooperação policial está sem presidente desde que Meng Hongwei, o chinês que ocupou o cargo por quatro anos, renunciou após desaparecer misteriosamente ao chegar à China no começo de outubro. Meng foi acusado de corrupção em seu país.
Reunidos em assembleia geral desde domingo em Dubai, os delegados da Interpol devem eleger, amanhã, o substituto de Meng Hongwei.
Há dois candidatos na disputa para encerrar o mandato de quatro anos de Meng, que vai até 2020: o atual presidente interino, o sul-coreano Kim Jong-yang, e um ex-funcionário de alto escalão do governo russo, Alexander Prokopchuk.
Os Estados Unidos, através de seu secretário de Estado, Mike Pompeo, expressaram nesta terça-feira seu pleno apoio ao candidato sul-coreano.
"Estimulamos todas as nações e organizações que façam parte da Interpol e que respeitem o direito a eleger um líder com integridade. Achamos que esse é o caso de Kim", destacou.
Embora a posição de presidente seja mais honorária do que operacional, a candidatura de Prokopchuk, de 56 anos, preocupou os críticos de Moscou, que temem que o órgão mundial se torne uma ferramenta a serviço da Rússia, que poderia abusar de seu papel para atacar oponentes políticos.
A votação está prevista para quarta-feira em Dubai no último dia da conferência anual.
Desde que o jornal britânico The Times revelou no domingo que Prokopchuk é o favorito, as advertências contra os delegados dos 192 países-membros da organização se multiplicam.
Em uma carta aberta publicada na segunda-feira, quatro senadores fizeram um apelo aos delegados dos 192 países-membros da Interpol para que rejeitem a candidatura de Prokopchuk.
- Tentáculos criminosos -
Entre os opositores mais ferrenhos desta candidatura está o investidor britânico William Browder, detido brevemente na Espanha neste ano por um mandato da Interpol e ex-empregador do advogado Serguei Magnitski, que morreu em uma prisão russa em 2009.
A Rússia "estenderá seus tentáculos criminosos a cada canto do planeta", se seu candidato for eleito presidente da organização, denunciou no Twitter.
O oligarca russo exilado, Mikhail Khodorkovski, também criticou. "Nossa equipe sofreu abusos da Interpol pela perseguição política da Rússia. Não acredito que um presidente russo ajude a reduzir essas violações", tuitou o opositor russo Alexei Navalni.
Ucrânia e Lituânia ameaçaram deixar a Interpol, se Prokopchuk for eleito, e uma alta funcionária da diplomacia britânica, Hariett Baldwin, enfatizou que Londres apoia a candidatura de Kim Jong-yang.
- 'Politização inaceitável' -
A reação do Kremlin a essas declarações foi seca. Seu porta-voz, Dmitry Peskov, expressou nesta terça-feira indignação com "uma forma de interferência" na decisão, enquanto o Ministério do Interior russo disse que havia uma "politização inaceitável" dessa "organização internacional profissional".
Segundo a biografia publicada no site do Ministério russo do Interior, Prokopchuk, de 56 anos, incorporou-se à Polícia na década de 1990. Em 2003, foi promovido a general de polícia e começou a trabalhar com a Interpol em 2006 - primeiro, como responsável adjunto do escritório da organização na Rússia.
Prokopchuk é poliglota. Fala alemão, polonês, italiano, inglês e francês. Também ficou encarregado da cooperação com a Europol. Em 2014, foi nomeado para o Comitê Executivo da Interpol e, em novembro de 2016, passou a ser seu vice-presidente.
O candidato eleito deve completar o mandato de quatro anos de Meng, que vai até 2020, mas o verdadeiro chefe da Interpol é, na verdade, seu secretário-geral. Até 2019, a posição é ocupada pela alemã Jürgen Stock.
"O presidente da Interpol tem certa influência, mas não é um cargo-chave", comentou Andrei Soldatov, editor-chefe do site Agentura.ru, especializado em casos de Inteligência.
Ele acredita, porém, que "o uso das notificações vermelhas politicamente motivadas aumentará", caso Prokopchuk seja eleito.
* AFP