A Anistia Internacional retirou da dirigente birmanesa Aung San Suu Kyi, nesta segunda-feira (12), o prêmio de "embaixadora de consciência", concedido em 2009, considerando que a também premiada com o Nobel da Paz "traiu os valores que uma vez defendeu".
"Como embaixadora de consciência da Anistia Internacional, esperávamos que você fosse usar a sua autoridade moral para denunciar a injustiça onde quer que a visse, inclusive em Mianmar", escreveu Kumi Naidoo, secretário-geral da ONG em uma carta dirigida Aung San Suu Kyi.
"Estamos consternados de que você já não represente um símbolo de esperança, coragem e defesa inquebrantável dos direitos humanos", acrescentou. "Retiramos este prêmio com uma profunda tristeza", encerrou a organização.
A Anistia Internacional denunciou as "múltiplas violações dos direitos humanos" observadas desde a chegada de Suu Kyi à liderança do governo birmanês, em 2016.
No final de 2017, mais de 700 mil rohingyas fugiram pela violência dos militares birmaneses e das milícias budistas e se refugiaram em Bangladesh, país vizinho, onde vivem desde então em imensos campos improvisados. A ONU se refere a um caso de "genocídio".
Em meados de setembro, uma missão da ONU sobre Mianmar apresentou ao Conselho de Direitos Humanos do organismo um relatório, elaborado sem a autorização para viajar a este país, que denunciava o "genocídio" e a "brutalidade" mostrada pelo Exército birmanês contra a minoria muçulmana dos rohingyas.
Ex-ícone da democracia, prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi foi muito criticada por sua frieza, falta de compaixão e de ação diante do destino dos muçulmanos rohingyas em seu país, e por jamais ter condenado as ações violentas contra esta minoria.
A ONG também lamentou os "ataques à liberdade de expressão". "Defensores dos direitos humanos, ativistas pacíficos e jornalistas têm sido presos, enquanto outros são ameaçados e intimidados pelo seu trabalho".
Em setembro, dois repórteres da agência de notícias Reuters acusados de "violação de segredo de Estado" por investigarem um massacre de muçulmanos rohingyas pelo Exército foram condenados a sete anos de prisão, que logo apelaram.
Três jornalistas do grupo Eleven Media foram presos por um curto período em outubro, após terem criticado uma pessoa próxima à dirigente. Foram libertados depois que as autoridades retiraram o processo.
Aung San Suu Kyi havia sido nomeada embaixadora de consciência da Anistia Internacional em "reconhecimento a sua luta pacífica e não violenta pela democracia e pelos direitos humanos". Quando recebeu esta distinção vivia em prisão domiciliar, supervisionada por uma junta militar.
* AFP