A aliança opositora liderada pelo veterano Mahathir Mohamad, de 92 anos, conquistou nesta quinta-feira (tarde de quarta, 9, no Brasil) uma vitória histórica nas eleições legislativas da Malásia, pondo fim a seis décadas no poder da coalizão governista Barisan Nasional (BN, Frente Nacional).
A coalizão Pakatan Harapan, junto com um pequeno partido aliado no estado de Bornéu, obteve 115 assentos, uma maioria simples no Parlamento (222), informou a Comissão Eleitoral.
O primeiro-ministro, Najib Razak, enfraquecido por vários escândalos, perdeu a disputa contra seu antigo mentor, o veterano ex-dirigente Mahathir Mohamad.
A coalizão governista sofreu nos últimos anos o desprestígio de um enorme escândalo de desvio de verba de um fundo criado em 2009 pelo primeiro-ministro para modernizar o país.
A volta surpreendente à arena política de Mahathir Mohamad, personalidade carismática que foi premiê durante 22 anos (1981-2003), impulsionado à frente de uma coalizão opositora, semeou a expectativa de uma surpresa.
Lim Kok Tong, uma eleitora de 43 anos na capital, Kuala Lumpur, declarou que ia às urnas "esperando uma mudança".
"Quando os governos se dão conta de que podem ser substituídos, ficam mais atentos aos cidadãos", afirmou essa eleitora pertencente a uma minoria chinesa que tradicionalmente apoia a oposição.
Em Alor Setar, cidade do norte do país, Jaafar Hasan, ex-funcionário de 69 anos, votou pela coalizão governante.
"Conheço Mahathir. É um homem bom, mas ficou arrogante. É o seu maior erro", disse à AFP.
- Sob pressão -
Najib, de 64 anos, estava sob pressão para obter uma vitória contundente depois que o governo perdeu a votação popular pela primeira vez nas eleições de 2013.
A campanha foi marcada por golpes baixos e insultos entre Najib e Mahathir durante comícios nesta ex-colônia britânica de 32 milhões de habitantes com maioria muçulmana.
Mahathir criticou duramente Najib pelo escândalo do fundo soberano 1MBD, que tem uma dívida de 12 bilhões de dólares, e criticou a esposa deste, Rosmah Mansor, pouco popular devido a seus gastos extravagantes.
O caso 1MBD, que explodiu há dois anos após revelações do Wall Street Journal, é hoje alvo de investigação em Suíça, Singapura e Estados Unidos. Najib e os encarregados do fundo sempre negaram ter agido de forma ilegal.
Atacado, o primeiro-ministro malaio criticou o passado autoritário de Mahathir quando estava no poder.
Representantes da sociedade civil denunciaram tentativas de fraude da coalizão no poder afirmando que milhões de eleitores sem domicílio e, inclusive pessoas falecidas, apareceram nas listas eleitorais, após terem sido delimitadas em março as novas circunscrições mais favoráveis ao poder.
Muitos eleitores se diziam fartos da corrupção nos partidos que formam o BN, inclusive entre a etnia malaia, apoio tradicional da coalizão no poder.
Mas a maioria dos analistas previam uma nova vitória do BN. Quinze milhões de eleitores estavam habilitados para eleger 222 deputados que, por sua vez, escolherão o primeiro-ministro.
* AFP