Cientistas rastrearam um fungo letal responsável pela morte de sapos, rãs e salamandras em todo o mundo até a península coreana, gerando novos pedidos de suspensão do comércio internacional de anfíbios de estimação.
A doença infecciosa perigosa, com potencial para levar espécies à extinção, Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), também é conhecida como fungo quitrídio.
A infecção da pele, transmitida de animais selvagens para animais de estimação, causa a quitridiomicose, que afeta a capacidade dos anfíbios de regular a água e os eletrólitos e pode levar à insuficiência cardíaca.
"Os biólogos sabem desde os anos 1990 que a Bd está por trás do declínio de muitas espécies de anfíbios, mas até agora não tínhamos conseguido identificar exatamente de onde veio", disse Simon O'Hanlon, do departamento de epidemiologia das doenças infecciosas do Imperial College London, coautor do estudo na revista Science.
"Em nosso artigo, nós resolvemos esse problema e mostramos que a linhagem que causou tal devastação pode ser rastreada de volta até o leste da Ásia".
Uma equipe internacional de cientistas reuniu amostras do patógeno de todo o mundo e sequenciou os genomas.
Eles encontraram quatro principais linhagens genéticas do fungo - três das quais são encontradas em todo o mundo, e uma quarta encontrada apenas em sapos nativos da Coreia.
A análise genética mostrou que "o alcance da doença se expandiu enormemente entre 50 e 120 anos atrás, coincidindo com a rápida expansão global do comércio intercontinental", disse o relatório.
As descobertas oferecem "fortes indícios para uma proibição do comércio de anfíbios da Ásia, devido ao alto risco associado à exportação de cepas anteriormente desconhecidas de quitrídio para fora dessa região", acrescentou.
Outro patógeno que afeta salamandras na Europa, B. salamandrivorans ou BSal, também emergiu da Ásia e está se espalhando através do comércio global de anfíbios de estimação.
"Nossa pesquisa não apenas aponta para o leste da Ásia como o ponto zero desse patógeno fúngico mortal, mas sugere que descobrimos apenas a ponta do iceberg da diversidade de quitrídios na Ásia", disse Matthew Fisher, professor do Imperial College London.
"Portanto, até que o comércio de anfíbios infectados seja interrompido, continuaremos colocando em risco nossa insubstituível biodiversidade global de anfíbios".
Em um artigo que acompanha o estudo também publicado na revista Science, Karen Lips - do departamento de biologia da Universidade de Maryland - concordou, dizendo que os resultados mostram que os esforços atuais para controlar o fungo mortal não foram bem-sucedidos.
"Os autores mostram que todas as variantes da Bd estão presentes no comércio de anfíbios (incluindo alimentos, animais de estimação e espécimes científicos)", escreveu.
Isso demonstra "a transmissão intercontinental contemporânea e o fracasso das medidas internacionais de biossegurança para controlar a disseminação desse patógeno".
* AFP