A Coreia do Norte libertou três americanos que mantinha detidos, informou nesta quarta-feira (9) o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiando o "gesto de boa vontade" do líder norte-coreano, Kim Jong Un, com quem prevê se reunir nas próximas semanas.
Pyongyang outorgou uma "anistia" a eles, disse um funcionário americano.
Segundo analistas, esta decisão dá uma necessária vitória diplomática para Trump e elimina o último grande obstáculo para uma histórica reunião entre dois inimigos da Guerra Fria.
"Tenho o prazer de anunciar-lhes que o secretário de Estado, Mike Pompeo, está no ar e de volta da Coreia do Norte com três maravilhosos cavalheiros que todo mundo está esperando ansiosamente", escreveu o presidente no Twitter.
"Parecem estar bem de saúde", acrescentou, anunciando, sem esconder sua emoção, que os receberá pessoalmente quando chegarem à base militar de Andrews, perto de Washington, às 02h00 locais de quinta-feira (03h00, em Brasília).
Dois dos libertados, o especialista agrícola Kim Hak-song e o ex-professor Tony Kim, foram presos em 2017, enquanto Kim Dong-chul, um empresário americano nascido na Coreia do Sul e pastor de cerca de 60 anos, havia sido condenado a 10 anos de trabalhos forçados em 2016.
A Casa Branca disse que os três homens caminharam sem ajuda até um avião da Força Aérea americana que os tirou da Coreia do Norte junto com Pompeo.
Um segundo avião, com mais equipamentos médicos, os aguardava na Base da Força Aérea de Yokota, nos arredores de Tóquio.
A família de Tony Kim agradeceu a "todos os que trabalharam e contribuíram e seu retorno para casa", e especificamente a Trump por "se envolver diretamente com a Coreia do Norte".
"Pedimos que continuem orando pelo povo norte-coreano e pela libertação de todos os que ainda estão detidos", assinalou em comunicado.
- Zona desmilitarizada descartada como sede -
A decisão da Coreia do Norte de libertar os três homens parece abrir caminho para o encontro entre Trump e Kim.
"Era absolutamente imperativo que a administração Trump garantisse a libertação dos três americanos antes de qualquer cúpula", declarou Jean Lee, analista do Wilson Center.
Após a libertação, Trump falou com seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, dizendo que esperava que isso impactasse positivamente na reunião com Kim, segundo a Casa Azul, sede da Presidência sul-coreana.
Seul fez eco desse sentimento, de acordo com um comunicado citado pela agência de notícias Yonhap.
Trump assinalou que já decidiu a data, hora e o lugar da reunião com Kim, embora as autoridades americanas tenham indicado que faltam alguns ajustes.
Quando perguntado sobre a duração da cúpula, Pompeo não descartou a possibilidade de estendê-la além de um dia.
Trump disse a jornalistas na Casa Branca que os detalhes serão revelados "nos próximos três dias", mas descartou que seja na Zona Desmilitarizada (DMZ, em inglês), que divide a península desde o fim da Guerra Coreia, em 1953.
Até agora, DMZ e Singapura haviam sido mencionados como possíveis sedes.
- Desnuclearização e acordo de paz -
O tão esperado encontro será para debater o programa de armas nucleares norte-coreano, que Trump exigiu a Kim que renunciasse de forma irreversível. Mas Kim deu poucos indícios de que esteja disposto a conceder, ou o que vai exigir em troca.
Pyongyang tem insistido que os Estados Unidos retirem seu apoio à Coreia do Sul, onde estão alocados mais de 30 mil militares americanos.
Em uma reunião em abril na DMZ, a terceira desde o fim da guerra entre os líderes do Norte e do Sul, Kim e Moon reafirmaram seu compromisso com o objetivo comum de uma "completa desnuclearização" da península.
Também concordaram em manter conversas com Washington e, possivelmente, com Pequim, para chegar a um acordo até o final do ano. A Guerra da Coreia, na qual a China apoiou o Norte e os Estados Unidos o Sul, terminou com um armistício, mas sem um tratado de paz.
Na terça-feira, Kim se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping, pela segunda vez em seis semanas.
Segundo a agência de notícias oficial da China, Kim disse a Xi que não há a necessidade de a Coreia do Norte ser um Estado nuclear, "sempre e quando as partes interessadas deixarem sem efeito suas políticas hostis e as ameaças à segurança" da Coreia do Norte.
O funcionário norte-coreano Kim Yong Chul, que se reuniu com Pompeo em Pyongyang, insistiu que a abertura do país às negociações "não foi o resultado das sanções impostas pelo exterior", mas uma mudança na abordagem do regime.
"Aperfeiçoamos nossa capacidade nuclear. É a nossa política concentrar todos os esforços no progresso econômico do país", disse.
* AFP