Estados Unidos, França e Reino Unido bombardearam alvos na Síria na madrugada deste sábado, em uma ação coordenada contra o regime de Bashar Al Assad uma semana após um suposto ataque com armas químicas ter matado cerca de 40 civis nos arredores de Damasco.
O presidente americano, Donald Trump, anunciou ter ordenado "às forças armadas dos Estados Unidos ataques de precisão contra alvos associados à capacidade de armas químicas do ditador Bashar Al Assad".
O chefe do Comando Conjunto dos EUA, general Joe Dunford, revelou que os alvos "foram especificamente identificados para reduzir o risco de envolver as forças russas" na Síria.
O secretário americano de Defesa, general Jim Mattis, informou que os ataques terminaram e que "no momento, não planejamos ações adicionais".
Segundo o general Mattis, foi enviada uma "mensagem clara" ao regime sírio. "É o momento de as nações civilizadas se unirem com urgência para acabar com a guerra civil, apoiando o processo de paz liderado pelas Nações Unidas".
Na primeira reação de Moscou ao ataque, o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, advertiu "que estas ações não ficarão sem consequências". "Toda a responsabilidade recai sobre Washington, Londres e Paris".
A agência estatal síria SANA denunciou que a "agressão é uma violação flagrante do direito internacional, uma infração à vontade da comunidade internacional e está destinada a fracassar".
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) informou que "foram registrados bombardeios ocidentais contra centros de pesquisa científica, várias bases militares e locais da Guarda Republicana em Damasco e seus arredores".
Segundo um oficial americano, os ataques aéreos coordenados visaram instalações de produção de armas químicas, atingiram vários alvos e utilizaram diferentes tipos de armas, incluindo mísseis de cruzeiro Tomahawk.
Quatro aviões tornado dispararam mísseis Storm Shadow contra "um complexo militar, uma antiga base de mísseis, a cerca de 24 km a oeste de Homs, onde se suspeita que o regime armazene substâncias para fabricar armas químicas", revelou o ministério da Defesa em Londres.
"Foram realizadas análises muito cuidadosas para determinar onde era melhor atacar com os Storm Shadows a fim de maximizar a destruição de produtos químicos armazenados e minimizar qualquer risco de contaminação nas áreas circundantes".
"As informações iniciais mostram que a precisão dos Storm Shadow e o planejamento meticuloso resultou em um ataque de sucesso".
A TV estatal síria destacou que a defesa antiaérea entrou em ação contra a "agressão" americana.
Instantes depois de ordenar o ataque, Trump responsabilizou Rússia e Irã "por apoiar, equipar e financiar o regime criminoso" da Síria.
Por isso, acrescentou, a Rússia "descumpriu suas promessas" de impedir que o governo de Assad use armas químicas.
Em Londres, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que não havia "alternativa prática" ao uso da força na Síria, ao anunciar que o Reino Unido se uniu à França e aos Estados Unidos para lançar ataques contra a Síria.
"Esta noite autorizei as Forças Armadas britânicas a realizar bombardeios coordenados e dirigidos para degradar as capacidades de armas químicas do regime e impedir seu uso".
Em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, confirmou que a França participou da operação conjunta, destacando que os bombardeios estavam "circunscritos às capacidades do regime que permitem a produção e o uso de armas químicas".
"Não podemos tolerar a banalização do uso de armas químicas", explicou o presidente em um comunicado.
"A linha vermelha fixada pela França em maio de 2017 foi cruzada. Então ordenei às forças armadas francesas que agissem esta noite, como parte de uma operação internacional realizada com Estados Unidos e Reino Unido e dirigida ao arsenal químico clandestino do regime sírio".
"A França e seus aliados retomarão, a partir de hoje, seus esforços nas Nações Unidas visando a instalação de um mecanismo internacional de estabelecimento de responsabilidades e prevenção de impunidade" envolvendo o regime sírio.
"Desde maio de 2017, as prioridades da França na Síria são constantes: terminar a luta contra o Daáesh (grupo Estado Islâmico), permitir o acesso da ajuda humanitária às populações civis, promover uma dinâmica coletiva para se obter uma solução política do conflito, levar a paz à Síria e velar pela estabilidade na região".
Momentos antes do pronunciamento à Nação de Trump, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que está em Lima participando da Cúpula das Américas, deixou repentinamente um banquete sem dar explicações e retornou ao hotel onde está hospedado, segundo jornalistas que o acompanham na viagem.
Mais cedo, a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, anunciou que os Estados Unidos tinham provas de que Assad havia de fato lançado o ataque com armas químicas na região de Duma.
"Não direi quando tivemos a prova. O ataque ocorreu no sábado e sabemos que foi um ataque químico", disse Nauert à imprensa, em Washington, acrescentando que apenas alguns poucos países, como a Síria, tinham "esse tipo de armas".
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, afirmou que a Rússia também era responsável pelo ocorrido porque "fracassou em impedir que ocorresse um ataque com armas químicas".
O presidente americano manteve seguidas reuniões de consulta nos últimos dias com seus conselheiros militares e aliados no exterior para definir uma reposta às denúncias de ataque químico.
No Conselho de Segurança da ONU, António Guterres, fez também nesta sexta-feira um apelo dramático a agir com "responsabilidade" para evitar uma "escalada militar total" na Síria.
* AFP