Enfrentado a onda de indignação gerada pelo violento ataque a tiros de dias atrás na Flórida, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, propôs nesta terça-feira (20) proibir um dispositivo para armas que foi utilizado em 2017 em Las Vegas para provocar um massacre.
Segundo uma pesquisa publicada nesta terça por Washington Post e ABC, mais de seis em cada 10 americanos consideram que a Casa Branca e o Congresso não fazem o necessário para prevenir os cada vez mais comuns ataques a tiros maciços.
A mobilização de muitos americanos que conseguiram escapar da matança realizada em 14 de fevereiro em uma escola de Parkland, ao norte de Miami, que deixou 17 mortos, continua suscitando um alto interesse dos meios de comunicação nacionais, revivendo um debate que durante muito tempo permaneceu paralisado.
Dezenas de sobreviventes planejam falar com legisladores sobre o controle de armas e segurança escolar na Assembleia do estado, em Tallahassee.
Menos de uma semana depois do massacre, a Câmara de Representantes da Flórida rejeitou uma proibição a fuzis de assalto e carregadores de grande capacidade em uma votação por 36-71, em uma sessão que começou com uma oração pelas vítimas da matança.
- Diretriz -
Apoiado firmemente pela Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), o poderoso lobby das armas de fogo, o presidente tenta equilibrar um tema candente.
Ao evocar o ataque a tiros de Las Vegas, que provocou a morte de 58 pessoas em outubro, Trump anunciou nesta terça que pediu ao Departamento de Justiça para proibir os dispositivos, conhecidos como "bump stocks", usados pelo assassino de Las Vegas, que permitem um fuzil disparar rajadas semiautomáticas.
"Assinei uma diretriz que solicita ao procurador-geral propor regulamentações a fim de proibir todos os mecanismos que transformam armas legais em fuzis automáticos", declarou o presidente na Casa Branca.
"Esses textos devem estar finalizados logo", acrescentou.
A Presidência, os legisladores republicanos e inclusive a Liga de Futebol Americano (NFL) afirmaram em outubro que esses mecanismos deveriam ser submetidos a mais controles.
Entretanto, cinco meses depois não houve nenhuma novidade sobre o tema no Congresso.
O "bump sotck" é uma culatra móvel que usa a energia do retorno da arma para imprimir um movimento de vai e vem extremamente rápido ao fuzil, cujos projéteis recarregam no mesmo ritmo.
O assassino de Las Vegas, que possuía 12 fuzis dotados de um sistema desse tipo, disparou até nove balas por segundo graças ao "bump stock".
Após afirmar que na segunda-feira receberá estudantes e professores, mas também representantes das forças de ordem, Trump prometeu medidas "concretas para que as escolas sejam mais seguras".
"Devemos deixar para trás debates já superados e nos concentrarmos em soluções práticas e medidas de segurança que funcionem verdadeiramente", disse.
- Falta de ação -
Em um tuíte na segunda-feira, o presidente manifestou sua disposição para reforçar o controle dos antecedentes do compradores de armas de fogo, sem detalhar até onde estava disposto a chegar.
A Casa Branca comunicou nesta terça-feira que estava aberta a uma discussão sobre a eventual fixação de uma idade mínima para a compra de armas semiautomáticas dotadas de carregadores de alta capacidade como o AR-15, usado por Nikolas Cruz, o jovem atirador de Parkland.
"É algo sobre o qual estamos dispostos a discutir e que deve ser abordado nas próximas semanas", declarou Sarah Sanders, porta-voz do Executivo.
Versões do AR-15 foram usadas na maior parte dos mais recentes massacres nos Estados Unidos, como da escola primária de Newton, em 2012, no qual 20 crianças foram assassinadas.
Alunos do colégio de Parkland anunciaram que em março realizarão uma "Marcha por nossas vidas" em Washington e outras cidades para reivindicar um controle mais estrito sobre as armas de fogo.
Após saudar "a valentia e a eloquência desses jovens rapazes e moças da escola Stoneman Douglas", o ator George Clooney e sua esposa Amal declararam que doarão 500 mil dólares em prol desta iniciativa.
A mesma ação foi anunciada pela apresentadora Oprah Winfrey, para quem essa mobilização é comparável às lutas nos anos 1960 contra a segregação racial.
Dezenas de alunos sobreviventes do ataque a tiros de Parkland irão na quarta-feira a Tallahassee, capital da Flórida, onde se reunirão com legisladores para denunciar a falta de ação da direção política diante da multiplicação de tiroteios nos últimos anos no âmbito escolar.
* AFP