O papa Francisco falou na terça-feira (16) durante visita ao Chile, marcada por protestos que deixaram 50 detidos, sobre os casos de crianças abusadas pelos sacerdotes. No país, quase 80 religiosos abusaram de menores de idade desde 2000, segundo uma lista distribuída na semana passada pela ONG americana Bishop Accountability. No início de seu papado, há quase cinco anos, o pontífice prometeu tolerância zero com esse tipo de crime.
— Não posso deixar de manifestar a dor e a vergonha que sinto diante do dano irreparável causado a crianças por parte de ministros da Igreja — afirmou o Papa no Palácio de La Moneda, onde foi recebido pela presidente Michelle Bachelet.
Um dos casos mais emblemáticos que marcaram a sociedade chilena foi o do padre Fernando Karadima, denunciado em 2010 por várias vítimas. Ele foi condenado pelo Vaticano a se retirar "para uma vida de oração e penitência". Em um encontro na Catedral de Santiago, o Papa pediu que os religiosos tenham "a coragem de pedir perdão". Mas para quem defende mudanças na postura da Igreja isso não é suficiente.
— Precisamos de atos concretos que o Papa não toma na Igreja chilena contra os abusadores — disse Juan Carlos Claret, porta-voz da associação de laicos Osorno.
A entidade defende que o bispo Juan Barros, apontado como cúmplice do "caso Karadima", seja expulso da Igreja. Barros participou da missa com Francisco, o que inflamou as manifestações nas redes sociais.
"Se o papa sair do Chile sem o compromisso de investigar a cumplicidade dos líderes da Igreja, a desconfiança na Igreja vai piorar", advertiu em comunicado a codiretora de Bishop Accountability, Anne Barrett Doyle.
Os protestos
Cerca de 50 pessoas foram presas em uma manifestação em Santiago. Os protestos ocorreram durante a "missa de paz", que reuniu 400 mil pessoas. "Francisco, cúmplice de crimes pedófilos", acusaram os manifestantes em frases escritas em cartazes. Eles foram dispersados pelos policiais com jatos d'água. Na madrugada desta terça foram registrados três novos ataques a igrejas, que se somam a outros cinco que ocorreram no fim de semana.
O Vaticano não esconde que a viagem ao Chile, a segunda de um papa após a realizada em plena ditadura militar (1973-1990) por João Paulo II, é uma das mais complexas feitas pelo papa argentino. Francisco culpou de certa maneira os representantes da igreja chilena, considerada por alguns como distante dos fiéis.
— Não somos super-heróis que, do alto, descemos para encontrar os "mortais" — criticando uma atitude "elitista".
A viagem
Após concluir seu primeiro dia no Chile com um passeio no papamóvel em Santiago, onde centenas de pessoas o aguardavam, o Papa tem previsto viajar nesta quarta-feira (17) para Temuco. A região vive tensões pelas reivindicações de terras ancestrais de grupos indígenas mapuche. Depois do Chile, o Papa ainda visitará o Peru.