O ex-presidente Sebastián Piñera lidera o resultado da eleição presidencial no Chile, enquanto que, contrariando as previsões, Beatriz Sánchez, da esquerda radical, disputa com o candidato da situação Alejandro Guillier a vaga no segundo turno, que ocorrerá no dia 17 de dezembro.
Com 81,75% dos votos apurados, Piñera, candidato do Chile Vamos (direita), tem 36,67% dos votos, resultado menor do que o previsto pelas pesquisas.
O candidato da situação Guillier, do Nova Maioria, aparece em segundo, com 22,64%, pouco à frente da representante da esquerda radical, Beatriz Sánchez, com 20,34%, segundo a contagem parcial do Serviço Eleitoral (Servel). Em quarto lugar aparece o candidato de ultra-direita José Antonio Kast, com 7,88%, maior surpresa da votação.
Cerca de 14,3 milhões de cidadãos foram convocados às urnas para votar. Os locais de votação fecharam às 18h, no horário local.
Oito candidatos presidenciais, entre eles seis de centro-esquerda, desejavam suceder a presidente socialista Michelle Bachelet, a partir de 11 de março.
Fantasma da abstenção
A fragmentação de partidos torna quase impossível que haja um vencedor no primeiro turno porque é preciso obter 50%+1 dos votos, apesar da vantagem de Piñera nas pesquisas. A isso se soma o fantasma da baixa participação em um país que é campeão em abstenção na América Latina, já que o voto não é obrigatório.
Por esse motivo, houve um apelo para que os chilenos fossem às urnas, começando pelo o da presidente.
— É importante que o compareça (à votação), que exerça seu direito cidadão e que vote por quem sinta que o representa no que deseja para o Chile — disse Bachelet, que evitou fazer prognósticos sobre a participação, mas que admitiu que espera um segundo turno.
Apesar de a maioria dos eleitores nas filas para votar serem mais velhos, Daniel Concha, de 31 anos, disse à AFP que sempre vota:
— Acho que é importante votar e assim se pode influenciar no projeto político que se quer para o país.
Plebiscito sobre Bachelet
Assim como no Peru, na Argentina e no Brasil, o Chile parece passar por uma guinada à direita.
Muitos consideram que esses comícios são de certo modo um plebiscito sobre a gestão da própria Bachelet, que já entregou em 2010 o poder a Piñera, rompendo a hegemonia de centro-esquerda desde a recuperação da democracia em 1990 depois de 17 anos da ditadura militar de Augusto Pinochet.
No entanto, nem todos acham que, em caso de vitória, Piñera vá cumprir sua promessa de revisar a bateria de reformas promovidas por Bachelet, em particular a tributária, a trabalhista e a lei do aborto terapêutico, que, junto com a gratuidade da educação superior, são algumas das mais emblemáticas do último mandato da socialista.
Além disso, os chilenos também estão convocados a renovar grande parte do Congresso com a introdução de uma nova lei eleitoral que põe fim ao sistema binominal herdado do regime Pinochet, substituído por um proporcional que visa a melhorar a representatividade.
Os cálculos eleitorais indicam que a direita aumentará sua sua representação no Congresso em detrimento da centro-esquerda, mas um eventual governo de Piñera não terá maioria em nenhuma das duas câmaras.
*AFP