As forças de segurança espanholas começaram nesta terça-feira a neutralizar os colégios eleitorais na Catalunha para impedir o referendo separatista, enquanto em Washington o presidente americano, Donald Trump, defendia a unidade da Espanha na presença do chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy.
A Polícia regional catalã recebeu nesta quarta-feira a ordem da Procuradoria de isolar os espaços designados como pontos de votação, vigiá-los até a noite de domingo, 1º de outubro, e evitar a constituição de mesas eleitorais, bem como o voto em outro local do mesmo estabelecimento ou arredores, incluindo a via pública, até um raio de segurança de 100 metros do local.
Além disso, os agentes desta força policial deverão identificar os responsáveis por estes centros, pedir informações relacionadas ao voto e advertir para que não cedam estes espaços.
A atuação desta Polícia, que é autônoma mas está submetida à legislação do Estado espanhol, é essencial. Por isso, e como parte de seu empenha para impedir a consulta, o Ministério do Interior a colocou neste fim de semana sob tutela parcial.
O presidente Mariano Rajoy conseguiu o apoio de Trump na Casa Branca, onde foi recebido em visita oficial de trabalho.
"A Espanha é um grande país, deve permanecer unido", disse Trump em coletiva na Casa Branca, ao lado do chefe de Governo espanhol, Mariano Rajoy.
E depois acrescentou: "acho que ninguém sabe se realmente haverá uma votação".
"Todo mundo sabe que o referendo não pode acontecer (...). E acredito que em uma situação como esta o mais sensato e razoável seja voltar ao sentido comum", afirmou Rajoy.
A crise catalã forçou o dirigente espanhol a cancelar uma viagem para a Estônia para participar de uma cúpula informal da União Europeia, e seu Executivo também decidiu adiar a adoção do projeto de orçamento de 2018.
- Força total contra a consulta -
Ao apontar para os colégios eleitorais, a Procuradoria espanhola se aprofunda em um plano destinado a impedir todos os passos até a organização do referendo.
Desde meados de setembro a Justiça ameaça os prefeitos que queiram cooperar com a votação, assim como outros funcionários que colaborem na organização do referendo.
A comissão eleitoral criada expressamente para o referendo teve que renunciar em bloco, depois que o Tribunal Constitucional lhe impôs multas diárias de 12.000 euros.
Também detiveram 14 funcionários regionais de alto escalão, apreenderam quase 10 milhões de cédulas de votação e outros materiais eleitorais, e fecharam dezenas de sites que faziam propaganda do referendo.
Ainda assim, o governo regional do separatista Carles Puigdemont mantém seu plano. "Cada vez que eles tentarem impedir uma coisa, encontraremos uma solução", disse à AFP o seu responsável das Relações Exteriores, Raul Romeva.
"No domingo, as pessoas sairão para votar em massa, pacificamente", acrescentou. "Não tenho dúvidas".
As autoridades desta região de 7,5 milhões de habitantes denunciam denunciam métodos "repressivos" de Madri e nesta terça-feira receberam o apoio do fundador do WikiLeaks, Julian Assange.
"A pergunta é como se observa na era moderna uma tentativa de reprimir as pessoas", disse por videoconferência a centenas de jovens em frente à Universidade de Barcelona.
"É possível para os serviços de segurança do Estado reprimir um movimento democrático sério, ou não é possível?", se questionou.
De Madri, repetem que querem proteger a Constituição e que não autoriza este tipo de consulta, assim como ocorre em França e Itália.
E destacam que os separatistas adotaram a lei do referendo sem deixar que a oposição a debatesse em profundidade, e por uma votação de maioria simples, quando para textos menos importantes a legislação catalã exige uma maioria de dois terços da Câmara.
Mas a tensão política na Espanha continua crescendo.
Em diversas cidades da Andaluzia e em outras localidades como Toledo (centro) e Santander (norte), os guardas civis que partiram à Catalunha como reforços foram aplaudidos por centenas de pessoas.
Em uma das maiores concentrações, manifestantes se juntaram na segunda-feira em Huelva para animar os agentes. Imagens que "são impróprias de uma sociedade civilizada", criticou Carles Campuzano, deputado do Partido Democrata Catalão no Parlamento espanhol.
"Por mais ardor que exista (...) estão perdendo tempo e, portanto, em 1º de outubro, como disse o governo, (o referendo) acontecerá", advertiu o porta-voz do Executivo catalão, Jordi Turull.
* AFP