O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou ter sido racista e defendeu com veemência na terça-feira (22) sua reação após os distúrbios em Charlottesville, em um discurso para milhares de seguidores na cidade de Phoenix, capital do Arizona. No ato com simpatizantes, ele voltou a usar a retórica do ataque à imprensa e às elites.
Mais da metade do discurso de 78 minutos foi destinado a insurgir o público contra as "pessoas doentes" dos meios de comunicação e contra as elites. A cidade de Phoenix é uma cidade democrata (contra Trump), mas o Estado do Arizona é majoritariamente republicano – Trump venceu a eleição no Estado.
– A imprensa é muito desonesta, e me refiro às pessoas realmente desonestas na imprensa e à imprensa falsa (fake media), que inventam histórias – afirmou, alegando que alguns órgãos da imprensa não quiseram informar que ele condenou "fortemente" neonazistas, supremacistas e a Ku Klux Klan (KKK).
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Trump foi muito criticado pela oposição, por membros do próprio partido e por vários setores da sociedade por não condenar com veemência a manifestação de supremacistas brancos há duas semanas em Charlottesville. O ato terminou em violentos distúrbios com ativistas antirracistas e uma mulher morta. Após a tragédia, o presidente responsabilizou "ambos os lados".
No comício, ele deu a entender que vai perdoar o ex-xerife Joe Arpaio, do condado de Maricopa, no Arizona, condenado por ignorar uma ordem judicial e perseguir imigrantes latinos ilegais.
– Acredito que ele ficará bem. Não vou fazer isto (conceder o indulto) esta noite porque não quero provocar nenhuma controvérsia – disse.
Coreia do Norte
Trump também se mostrou otimista sobre os efeitos de sua retórica agressiva contra a Coreia do Norte. Para o presidente, a tática começou a dar frutos, apesar de especialistas argumentarem que o discurso elevou a tensão entre Washington e Pyongyang pelo programa nuclear norte-coreano, em comparação à gestão Obama.
– Algumas pessoas disseram que era muito forte (a retórica). Não é suficientemente forte. Acredito que Kim Jong-Un está começando a nos respeitar – opinou.
Muro na fronteira com o México
A expectativa era que, com o discurso, Trump conseguisse um novo apoio ao governo e para seu polêmico projeto de construir um muro na fronteira de 3,1 mil quilômetros com o México.
O objetivo das obras é impedir a chegada de imigrantes sem documentos ao país. Trump insiste que os mexicanos devem pagar pela obra, que tem custo estimado em 21 bilhões de dólares, o que para muitos praticamente inviabiliza o projeto. O presidente do México, Enrique Peña Nieto, já afirmou que o país não vai pagar o muro.
De acordo com dados oficiais, nos últimos seis meses as autoridades americanas detiveram mais 126 mil pessoas que tentavam entrar de modo ilegal nos Estados Unidos, uma queda de 46% na comparação com o mesmo período de 2016.
Após os decretos para deter em território americano aqueles que violaram as regras da imigração, entre janeiro e julho foram presas 91 mil, 44% a mais que no mesmo período do ano passado.