O presidente americano, Donald Trump, reagiu com agressividade nesta terça-feira (15) a perguntas sobre sua reação à violenta marcha de supremacistas brancos realizada em Charlottesville, que terminou com uma mulher morta e 19 feridos, ao afirmar que houve "culpa dos dois lados".
– Há dois lados em uma história – disse Trump a jornalistas na Trump Tower, em Nova York, onde ele apresentava medidas para melhorar a infraestrutura do país.
Quando consultado sobre o motivo pelo qual esperou até a segunda-feira (14) para condenar explicitamente os grupos de ódio e racistas presentes em Charlottesville no fim de semana, Trump disse que quis ser cuidadoso para não dar uma "declaração apressada" sem o conhecimento de todos os fatos.
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Ele chamou o suposto simpatizante nazista, que jogou o próprio carro contra manifestantes antirracismo – um ataque que matou uma mulher – de uma "desgraça para si próprio, sua família e seu país".
Diante da avalanche de perguntas, Trump justificou a sua primeira declaração.
– Observei atentamente, muito mais atentamente do que a maioria das pessoas. Havia um grupo de um lado que era agressivo e outro grupo do outro lado que também era muito violento. Ninguém quer dizer – afirmou.
– O que dizer da "esquerda alternativa" que atacou a "direita alternativa", como vocês dizem? Eles não têm nenhuma parcela de culpa? Têm um problema? Eu acho que sim – lançou. – Eu critiquei os neonazistas, mas todos os que estavam lá não eram neonazistas ou supremacistas brancos – acrescentou, reiterando que foi "um dia terrível".
Trump também defendeu o polêmico estrategista-chefe da Casa Branca, o ultradireitista Steve Bannon, ao afirmar:
– Eu gosto de Bannon. Ele é meu amigo, é um homem bom, não é racista – disse, embora tenha dado a entender que a sua saída, fonte de intensa especulação há vários dias, não esteja excluída.
Destacando que Bannon tenha chegado "tarde" a sua equipe, deixou dúvidas sobre o seu futuro.
– Veremos o que irá acontecer com Bannon – assinalou.
De acordo com o New York Times, o poderoso magnata dos meios de comunicação Rupert Murdoch, fundador da emissora conservadora Fox News, exortou recentemente Trump a demitir o seu veterano conselheiro.
No sábado, centenas de pessoas se reuniram em Charlottesville para participar ou protestar contra a "Marcha da Direita Unida", que rapidamente resultou em confusão, apesar da forte presença de agentes antidistúrbios e tropas da guarda nacional.
A vítima, Heather Hayer, de 32 anos, morreu quando um automóvel atropelou intencionalmente uma multidão de manifestantes que se opunham à marcha.
Protestos
Logo após a coletiva, centenas de pessoas foram protestar em frente à Trump Tower.
– Chegamos para ficar, chegamos para lutar – exclamaram os manifestantes na calçada da Quinta Avenida, próxima da Trump Tower, aonde o presidente voltou pela primeira vez desde que chegou à Casa Branca, em janeiro passado.
Um cordão de policiais rodeava os manifestantes para evitar confrontos com simpatizantes do presidente, que costumam entoar cânticos pró-Trump.
– Eu não teria vindo (à manifestação) se não tivesse acabado de ouvi-lo dizer o que disse na TV – afirmou Jason David, ator de 23 anos.
As declarações do presidente foram imediatamente saudadas por David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan (KKK) que esteve presente em Charlottesville.
"Obrigado, presidente Trump, por sua honestidade e coragem", tuitou, agradecendo-lhe por "dizer a verdade" e denunciar "os terroristas de esquerda".
Enquanto isso, as duas declarações provocaram uma onda de reações indignadas. Ileana Ros-Lehtinen, congressista republicana pela Flórida, expressou a sua profunda discordância.
"Acusar 'os dois lados' depois de Charlottesville? Não. A volta ao relativismo quando se fala da KKK, de simpatizantes nazistas e supremacistas brancos? Claramente não", sentenciou.
"Como judeu, como americano, como ser humano, não encontro as palavras para expressar o meu desgosto e a minha decepção. Não é o meu presidente", declarou o senador democrata pelo Havaí, Brian Schatz.
Seguindo o exemplo de vários empresários e como sinal de protesto pela posição do presidente diante dos distúrbios de Charlottesville, o presidente do principal sindicato americano AFL-CIO, anunciou a sua renúncia do conselho industrial de Trump.
– Não podemos integrar o conselho de um presidente que tolera o preconceito e o terrorismo doméstico – afirmou nesta terça-feira Richard Trumka, que integrava o grupo, depois das declarações do presidente. – Os comentários de hoje do presidente Trump refutam as declarações forçadas de ontem sobre a KKK e os neonazistas. Nós precisamos renunciar em nome da classe trabalhadora americana, que rejeita todas as noções de legitimidade destes grupos preconceituosos – acrescentou Trumka.
* AFP