Uma campanha para retirar os monumentos da Confederação em homenagem a generais que apoiaram a escravidão está ganhando força nos Estados Unidos. Segundo o grupo de defesa dos direitos civis Southern Poverty Law Center (SPLC), há mais de 1,5 mil símbolos em terrenos públicos, principalmente no sul do país.
Confira abaixo as três figuras-chave da iconografia do Sul e seu principal símbolo: a bandeira da batalha confederada.
Robert E. Lee
Robert Edward Lee (1807-1870) é o mais venerado dos generais confederados, sendo homenageado com mais de 50 escolas públicas que levam seu nome, segundo o SPLC.
Nascido na Virgínia, ele fez parte da Academia Militar americana, West Point, e passou três décadas no exército.
Em 1859, então coronel, dirigiu um grupo de marines enviados para Harper's Ferry, na Virgínia, para derrotar o abolicionista John Brown, que havia tomado o arsenal local com a esperança de inspirar uma insurreição de escravos. Brown foi capturado e enforcado, mas seu ataque é considerado por muitos historiadores como o catalisador da Guerra Civil.
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Em 1861, após a explosão do conflito entre o Norte e o Sul, o presidente Abraham Lincoln ofereceu a Lee dirigir as forças da União. Lee se negou. "Não posso tomar as armas contra meu lar, minha família e meu Estado nativo da Virgínia", alegou.
Em junho de 1862, Lee, também proprietário de escravos, assumiu o exército do norte da Virgínia e o levou até sua eventual rendição, em abril de 1865.
Depois da guerra, tornou-se presidente da Washington College, na Virgínia, onde se manteve até sua morte.
Thomas Jackson
Thomas Jonathan Jackson (1824-1863) é considerado um dos mais brilhantes generais da Guerra Civil e fica logo atrás de Lee no posto de adoração sulista.
Nascido na Virgínia, o profundamente religioso Jackson se formou em West Point e recebeu uma condecoração por sua coragem durante a guerra com o México.
Como coronel durante a Guerra Civil, superou regularmente os exércitos da União no Vale do Shenandoah, com movimentos rápidos que levaram sua brigada a ser conhecida como "a cavalaria de Jackson".
Seus próprios homens atiraram nele por acidente em 2 de maio de 1863, e Jackson faleceu oito dias depois.
Jefferson Davis
Jefferson Finis Davis (1808-1889) foi o presidente dos Estados Confederados da América desde sua fundação, em 1861, até sua derrota, quatro anos depois.
Nascido em Kentucky, mas criado no Mississippi, também se formou em West Point e serviu no exército. Proprietário de uma grande plantação de algodão, era um firme defensor da escravidão e teve dezenas de escravos.
Foi congressista e senador pelo Estado do Mississippi, servindo como secretário de Guerra do presidente Franklin Pierce, de 1853 a 1857.
Deixou o Senado em janeiro de 1861 depois que o Mississippi votou para se separar da União. Foi nomeado presidente interino da Confederação no mês seguinte.
Davis foi capturado por tropas da União em maio de 1865, um mês depois da queda da capital confederada, Richmond, na Virgínia. Ficou dois anos detido à espera de julgamento por traição.
Foi solto em maio de 1867, e o presidente Andrew Johnson emitiu um indulto aos ex-confederados no Natal do ano seguinte.
Morreu em Nova Orleans, em 1889.
A bandeira da batalha confederada
A bandeira vermelha, branca e azul da batalha confederada é um dos símbolos mais conhecidos do Sul secessionista. Tem um fundo vermelho, com um "X" azul que a corta de uma ponta a outra e inclui 13 estrelas brancas.
Essas estrelas representam os 11 estados que se separaram da União e outros dois – Kentucky e Missouri – que acabaram não se unindo formalmente à Confederação.
– Para muitos brancos do Sul, é um emblema do legado e do orgulho regionais – explica o SPLC. – Mas, para outros, tem um significado totalmente diferente, representando o racismo, a escravidão e a longa história de opressão dos afro-americanos no país – acrescentou.
Depois do assassinato de nove fiéis negros por um supremacista branco em junho de 2015, a bandeira confederada foi retirada do exterior do prédio legislativo do Estado da Carolina do Sul. Alguns de seus elementos continuam incorporados nas bandeiras dos Estados de Alabama, Arkansas, Flórida e Geórgia.
O Mississippi é o único Estado que ainda exibe a bandeira confederada original como seu emblema oficial.
Isso, contudo, pode mudar após a violência do último fim de semana em Charlottesville, na Virgínia. Um simpatizante neonazista atropelou e matou uma mulher durante uma manifestação convocada pelos supremacistas brancos para protestar contra a retirada de uma estátua de Lee.
– É óbvio que este símbolo continua associado a atitudes de fanatismo, ódio e superioridade racial – disse o presidente da Câmara de Representantes do Mississippi, Philip Gunn. – Essa associação seguirá aumentando, o que proporciona mais razões para se desfazer dessa bandeira – declarou.