A Cidade Antiga de Mossul era o coração da segunda maior cidade do Iraque, mas os combates entre as forças armadas e os extremistas islâmicos reduziram a localidade a um campo de ruínas.
Em meio a essa paisagem apocalíptica, alguns tratores tentam limpar os escombros das ruas da cidade do norte do país, "libertada" do grupo Estado Islâmico (EI) após uma ofensiva de nove meses.
Perto dali, alguns veículos blindados abrem caminho em busca dos últimos combatentes extremistas escondidos na região.
– Há mais do que um grupo de terroristas que perderam o controle, e as forças de segurança perseguem-nos – garantiu o coronel Salam Khasem Hussein, das forças antiterroristas (CTS). – A batalha terminou, com uma grande vitória para as forças de segurança – diz ele, com o braço apoiado em uma tipoia por um ferimento de guerra.
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Horas antes de o primeiro-ministro Haider Al-Abadi, rodeado por comandantes e oficiais, anunciar na segunda-feira (10) a "vitória sobre a brutalidade e o terrorismo", os soldados seguiam lutando na zona oeste de Mossul contra os extremistas entrincheirados nas margens do Rio Tigre.
Por ordem do coronel Hussein, dois franco-atiradores e um soldado armado com uma metralhadora e um impressionante cinto de munições em volta do pescoço escalavam as ruínas de um edifício para matar um extremista.
Corpos na calçada
Na terça-feira, as forças iraquianas vasculhavam a área.
– Limpamos o setor das células adormecidas (do EI). Vários grupos jihadistas estão escondidos em abrigos – informou o general Sami Al-Aridhi.
Em várias ruas da Cidade Antiga, os corpos de combatentes extremistas jazem nas calçadas, sob cobertores. Os combates, os bombardeios iraquianos e da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e os explosivos espalhados pelos jihadistas transformaram o lugar em uma pilha de escombros.
Quase nenhum edifício da Cidade Antiga saiu ileso do conflito, outrora conhecido pelos bazares, tesouros arqueológicos, antigas mesquitas e mansões.
Agora, as ruas estão cheias de pedaços de concreto, chapas metálicas e ferro retorcido dos prédios destruídos. Há muitos carros carbonizados nas várias crateras abertas nas calçadas.
Na segunda-feira à noite, os aviões continuavam bombardeando o último reduto radical, repetindo a mesma cena: primeiro, um breve silvo, seguido de uma agitação e de uma nuvem de fumaça branca subindo para o céu.
A cúpula verde de uma mesquita nas proximidades ainda está de pé.
– Estamos nos movendo em direção ao rio, a uma distância de 50, ou 60 metros – informou o general Abdel Wahab al-Saidi, empoleirado sobre sacos de arroz empilhados na mesquita transformada em armazém pelo EI.
Dezenas de caixas de garrafas de azeite, latas de conservas e colchões sujos foram guardados ali.
Centenas de milhares de civis conseguiram fugir dos combates, depois de terem vivido em condições terríveis, sob o risco dos bombardeios e usados como "escudos humanos" pelo EI.
A poucos quarteirões de distância, no antigo pátio da mesquita Al-Nuri, dinamitada pelo EI, o cheiro de churrasco atrai as atenções.
Alguns voluntários mobilizados para ajudar as forças iraquianas preparam kebabs, a poucos passos do minarete inclinado destruído e das elegantes colunas de pedra adornadas com versos do Alcorão que seguem de pé.