A rainha Elizabeth II fez a tradicional leitura do discurso diante das duas Câmaras, um texto preparado pelo governo para apresentar os principais objetivos do próximo ano, que depois deve ser aprovado por um Parlamento em que os conservadores dispõem de 317 dos 650 deputados – menos da metade das cadeiras.
– A prioridade de meu governo é conseguir o melhor acordo possível para quando o país abandonar a União Europeia – afirmou a rainha, que estava acompanhada pelo filho Charles, e não pelo marido, o príncipe Philip, hospitalizado por uma infecção.
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O governo de May "tentará conseguir o maior consenso possível sobre o futuro do país fora da UE", leu a monarca.
Além das leis para a saída da UE esboçadas por May, o discurso não fez qualquer menção à visita de Estado do presidente norte-americano Donald Trump, prevista inicialmente para o fim do ano, o que foi interpretado como um sinal de adiamento da viagem. Ao mesmo tempo, a rainha confirmou a visita dos reis da Espanha, Felipe VI e Letizia, entre 12 e 14 de julho.
Renúncia ao programa eleitoral
O discurso deixou de lado alguns dos pontos mais polêmicos do programa eleitoral utilizado por May durante as eleições legislativas de 8 de junho, como o projeto para que os idosos ou as famílias contribuam ao pagamento pelo tratamento com todo o patrimônio até que restem 100 mil libras ou a reinstauração da caça à raposa.
Pela primeira vez em muitas décadas, um chefe de Governo compareceu ao discurso da rainha sem contar com o apoio da maioria dos deputados.
O jornal The Times comparou o novo governo a um "zumbi", que nem sequer tem forças para "arbitrar as divergências entre seus ministros". "Downing Street é um vazio", afirmou a publicação conservadora.
As leis para a separação da UE, cujo texto será apresentado posteriormente, incluirão uma que abolirá a de 1972 que incorporou a legislação europeia ao direito britânico, além de outras sobre a Alfândega, imigração, pesca, comércio e agricultura.
Quatro atentados em três meses, com 35 mortos, e o incêndio devastador de um prédio de apartamentos que provocou pelo menos 79 vítimas fatais provocaram a indignação de boa parte da população.
A sessão de abertura do novo Parlamento acontece com vários protestos convocados, sob o lema "Um dia de raiva". A expectativa é que, em 29 de junho, após vários dias de debates, as duas Câmaras do Parlamento – a dos Comuns e a dos Lordes – votem sobre o discurso da rainha, o que dará uma ideia da força de May, coincidindo com o início das negociações do Brexit.
Moção de censura
Não há nada escrito sobre o procedimento a seguir caso a oposição consiga introduzir uma emenda ao discurso da rainha, mas nas atuais circunstâncias, isto seria interpretado como uma moção de censura que poderia resultar em novas eleições.
A primeira-ministra antecipou as eleições, previstas inicialmente apenas para 2020, para o dia 8 de junho, alegando que precisava fortalecer a maioria absoluta para negociar com Bruxelas, mas perdeu a aposta e ficou em desvantagem no Parlamento.
Se a próxima legislatura – que supervisionará a saída da UE e terá que mudar milhares de leis – já seria um grande desafio com um governo forte, parece quase impossível de administrar com um governo frágil.
O discurso desta quarta-feira aconteceu sem que May tenha conseguido sequer um acordo com o pequeno Partido Unionista Democrático (DUP), para que os 10 deputados da formação da Irlanda do Norte apoiem os conservadores, o que significaria a maioria absoluta perdida em 8 de junho.
Uma fonte do DUP advertiu na terça-feira (20) que o apoio do partido não pode ser considerado certo. O acordo "não é certamente iminente", disse a fonte, porque as negociações "não aconteceram como o DUP esperava".
De acordo com a imprensa, o partido unionista e ultraconservador não está feliz com o desprezo de alguns deputados de May a respeito de algumas de suas posições.
– Os conservadores sofrem tamanho desajuste que deveriam ficar de lado e permitir aos trabalhistas formar um governo de minoria – disse John McDonnell, secretário de Finanças do Partido Trabalhista e braço direito do líder da oposição, Jeremy Corbyn.