O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, um dos grandes nomes da história contemporânea e pai da reunificação alemã, morreu nesta sexta-feira (16), aos 87 anos.
Kohl realizou de maneira forçada a reunificação da Alemanha, dividida desde a Segunda Guerra Mundial, superando as reticências internas e a preocupação internacional para entrar definitivamente na História.
Considerado um político provinciano por alguns no microcosmos de Bonn, então capital federal, alcançou um novo patamar durante os 11 meses transcorridos entre a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, e a fusão, em 3 de outubro de 1990, da República Federal da Alemanha (FRA), capitalista, com a República Democrática Alemã (RDA), comunista.
Ao tornar realidade o seu sonho de uma Alemanha unida, integrada na Europa e na Otan, ganhou o apelido de "chanceler da reunificação".
Em 10 de novembro, depois de pronunciar a palavra "reunificação" em um discurso aos berlinenses, Kohl recebeu uma sonora vaia da multidão que o ouvia e que aplaudiu com entusiasmo um pouco antes o ex-prefeito da cidade e ex-chanceler social-democrata Willy Brandt.
Entretanto, o chanceler não se deu por vencido e em 28 de dezembro apresentou no Parlamento um programa de 10 pontos até a reunificação, propondo primeiro a instauração de estruturas confederais.
– Em algumas semanas começa a última década deste século, o século de tanta miséria, de sofrimento e de sangue – disse.
– Hoje há sinais promissores que mostram que os anos 1990 podem ser portadores de mais paz e liberdade na Europa e na Alemanha. É necessário, todos sentem, dar a nossa contribuição, devemos aceitar juntos o desafio da História – acrescentou.
A União Cristão Democrata (CDU) de Kohl ganhou as primeiras eleições livres na Alemanha Oriental, em 18 de março de 1990, com 40,8% dos votos, um resultado que para o chanceler teve o valor de um plebiscito. A população da RDA acreditava nos efeitos positivos de uma unificação rápida.
Propunha a paridade entre o poderoso Deutschemark ocidental e o Volksmark do leste, uma iniciativa duramente combatida pelo Bundesbank, o banco central da RFA, que considerava com toda a razão a situação econômica da república comunista muito mais desastrosa do que se poderia pensar pela sua classificação de 10º potência econômica mundial.
O gesto foi tanto uma medida de solidariedade com os alemães do leste como uma decisão destinada a evitar o seu êxodo em massa para o oeste.
– O preço político - e econômico - de uma unificação alemã ainda atrasada havia sido como toda a segurança muito mais alto do que o obstáculo financeiro que aceitamos ao optar pela via rápida da reunificação – escreveu Kohl em 1996, quando o Estado federal pagou 480 bilhões de dólares às regiões da ex-RDA.
– Inclusive se soubesse dessas cifras [o balanço econômico da RDA] na primavera de 1990, não teria agido de outra maneira nos principais pontos – acrescentou então.
A promessa de transformar os novos Länder (estados) do leste em "paisagens florescentes" não se cumpriu e a Alemanha esteve durante muito tempo impedida pelo enorme peso financeiro e social de uma transição brusca.
No exterior, o chanceler também teve que trabalhar para convencer os seus aliados, em particular o presidente francês François Mitterrand e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, ambos com muitas reservas sobre a reunificação.
No entanto, se apoiou na estreita relação com o presidente dos Estados Unidos George Bush pai, e também usou os vínculos de confiança com o russo Mikhail Gorbachev para conseguir retirar as tropas soviéticas.
Graças à reunificação, sua "grande obra", Kohl deixou a chancelaria em 1998 com a Grande Cruz da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha, uma distinção somente obtida pelo chanceler do pós-guerra Konrad Adenauer.
Nesse mesmo ano foi recompensado com o título de Cidadão de Honra da Europa, concedido até então apenas a Jean Monet. E desde o fim de sua carreira política, a cada outono, o nome do chanceler que reunificou a Alemanha 45 anos após o nazismo, aparecia nas opções para o Prêmio Nobel da Paz.
Homenageado
As primeiras reações à notícia da morte do ex-chanceler alemão Helmut Kohl foram do ex-presidente americano George W. Bush e do presidente da comissão europeia, Jean Claude Juncker.
Para Bush, Kohl foi um dos maiores líderes do pós-guerra. Já Juncker definiu o ex-chanceler alemão como "a própria essência da Europa".
Já o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que "perdemos um grande europeu".
A chanceler alemã, Angela Merkel, declarou que Helmut Kohl "mudou (sua) vida de maneira decisiva" pelo papel que desempenhou durante o processo de reunificação do país. Ele foi "uma sorte para nós alemães", ressaltou Merkel em Roma. Ela cresceu na antiga Alemanha oriental, e começou sua carreira política durante a reunificação alemã, em 1990.