A crise do Golfo não deverá ter impacto no curto prazo nos preços dos hidrocarbonetos, que podem subir caso a situação se estenda, perturbando as entregas de gás natural liquefeito (GNL) do Catar, estimam os analistas.
Os preços do petróleo subiram um pouco quando Arábia Saudita e seus aliados romperam relações diplomáticas com Doha no dia 5 de junho, mas logo voltaram a cair para ficar ao redor dos 48 dólares o barril.
O Catar bombeia 600.000 barris por dia e representa apenas de 2% a 3% do fornecimento mundial. Seu impacto é marginal no preço do petróleo em um mercado saturado.
No entanto, o pequeno emirado é um ator mais relevante no abastecimento de GNL. Com um terço do abastecimento, principalmente na Ásia e na Europa, é o maior exportador mundial.
"No mercado sobra petróleo o que torna pouco provável que a crise do Golfo leve a uma disparada dos preços no curto e no médio prazo", disse à AFP M.R. Raghu, vice-presidente da Kuwait Financial Center (Markaz).
Na segunda-feira, o Catar disse que seguiria o acordo entre membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e países não membros do cartel para estender a redução da produção por mais nove meses, com o objetivo de reequilibrar o mercado petroleiro. A parte do Catar neste acordo supõe uma redução de 30.000 barris por dia.
O analista Jean-François Seznec, associado do Atlantic Council's Global Energy Center dos Estados Unidos, acredita que isso pode ter um que impacto indireto limitado sobre os preços.
O Oxford Economics estima que as exportações de petróleo e gás do Catar não vão ser afetadas significativamente. O emirado pode evitar os países com os quais está rompido utilizando as águas territoriais de Omã e Irã.
A rota iraniana, contudo, poder ter custos mais altos, sobretudo por conta do preço da apólice de seguros, que o Catar deverá pagar, adverte Seznec.
A maioria das 80 milhões de toneladas de GNL catari é exportada por barco, principalmente para Japão, Coreia do Sul e Índia, assim como para vários países europeus.
Um terço das importações britânicas de gás vêm do Catar. Entre os outros compradores estão Espanha e Polônia.
A restrição aérea, terrestre e marítima imposta por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito não afetou até agora as vias marítimas para os navios que transportam GNL catari pelo estreito de Ormuz.
A União Europeia (UE), que expressa a vontade de reduzir sua dependência do gás russo, "poderia se ver ameaçada" se o mercado for perturbado, escreveu o Kuwait Financial Center em um relatório publicado na segunda-feira.
O Catar envia mais de 2 bilhões de pés cúbicos por um gasoduto para os Emirados Árabes Unidos. Uma pequena parte vai para o sultanato de Omã.
Uma escalada militar no Golfo ou algum tipo de perturbação do abastecimento de gás catari faria os preços dos hidrocarbonetos disparar.
"Se o conflito degenerar para um confronto militar, pode-se esperar um salto muito significativo dos preços -aproximadamente 150 dólares por barril de petróleo-", assim como dos preços de gás, avalia Seznec.
Esta tendência seria acompanhada de um aumento significativo dos prêmios de seguro.
Essa hipótese incluiria alterações no fornecimento da maioria dos países do Golfo, entre eles Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo.
O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), cuja unidade foi fraturada com a crise, inclui Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar e Omã.
Esses países totalizam um quinto das exportações mundiais de petróleo (13 milhões de barris por dia), que representam mais de 80% das receitas públicas dos Estados-membros do CCG.
Raghu estima que uma escalada poderia provocar um "bloqueio das rotas marítimas e um aumento do custo do transporte de gás".
Segundo Raghu, os importadores de GNL catari, como Japão, Coreia do Sul e Índia, podem enfrentar dificuldades de abastecimento, buscando, por isso, outros fornecedores para o longo prazo.
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* AFP