Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrein e Iêmen romperam, nesta segunda-feira (5), as relações diplomáticas com o Catar, acusado de apoiar o "terrorismo". A decisão tem como consequência a expulsão de Doha da coalizão árabe que luta no Iêmen.
O Catar criticou a decisão dos países e classificou o rompimento das relações como "injustificável" e "sem fundamento". Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do país afirmou que o objetivo da medida é "colocar o Estado (do Catar) sob tutela, algo totalmente inaceitável".
Leia mais
O que se sabe até agora sobre o atentado em Londres
Ariana Grande faz show em homenagem às vítimas do terrorismo
Estado Islâmico reivindica atentado de sábado em Londres
A agência estatal de Riad, a SPA, informou que a Arábia Saudita cortou os vínculos diplomáticos e consulares com o país vizinho para "proteger a segurança nacional dos perigos do terrorismo e do extremismo". De acordo com uma fonte oficial citada pela SPA, o país também decidiu "fechar fronteiras terrestres, marítimas e a ponte aérea".
A medida "decisiva" foi motivada pelas "graves violações cometidas pelas autoridades do Catar nos últimos anos", completou a fonte saudita.
A companhia aérea Etihad Airwaysm, dos Emirados Árabes, anunciou a suspensão dos voos com pouso e decolagem no Catar. A medida entrará em vigor na terça-feira (6) "até nova ordem".
Na Austrália, onde está em visita oficial, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, pediu aos países do Golfo que permaneçam unidos e superem as divergências.
– Estimulamos as partes para que sentem e tratem as divergências – afirmou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos em Sydney. – Acreditamos que é importante que o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) permaneça unido – completou.
Crise mais grave em décadas
O rompimento das reações diplomáticas é a crise mais grave na região desde a criação, em 1981, do CCG. O conselho é formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar.
Em poucas horas, quatro países anunciaram a ruptura de laços diplomáticos com o governo de Doha.
A agência de notícias do Bahrein afirmou que o pequeno reino cortaria os vínculos com o Catar pelas reiteradas ameaças "à segurança e à estabilidade do país e por interferências em seus temas".
O Ministério das Relações Exteriores do Egito informou que o Cairo decidiu "acabar com as relações diplomáticas com o Catar" porque Doha apoia o "terrorismo". Também anunciou o fechamento de todas as rotas marítimas e aéreas entre os dois países.
O Catar era um dos principais apoios ao ex-presidente islamita egípcio Mohamed Mursi, derrubado em 2013 pelo ex-comandante das Forças Armadas e atual presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi. Desde então, os dois países têm uma relação tensa.
O comunicado egípcio menciona "o fracasso de todas as tentativas para dissuadir (o Catar) de apoiar organizações terroristas".
Alguns analistas temem que a situação provoque a repetição da crise de 2014, quando vários embaixadores de países do Golfo em Doha foram convocados por seus governos, principalmente por acusações de que o país apoiava a Irmandade Muçulmana.
Na semana passada, o emir do Catar viajou ao Kuwait para uma reunião com o emir xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, o que foi considerado uma tentativa de obter uma mediação.
Expulso da coalizão militar
O Catar também foi expulso da coalizão militar árabe que atua no conflito no Iêmen. Liderada pela Arábia Saudita, a aliança justificou a decisão pelo suposto apoio do Catar a organizações jihadistas como a Al-Qaeda e o grupo Estado Islâmico no Iêmen, segundo um comunicado divulgado pela agência oficial saudita SPA.
Há mais de dois anos, a coalizão está presente no conflito do Iêmen para apoiar o governo de Abd Rabo Mansur Hadi, que luta contra os rebeldes huthis, um grupo de milícias xiitas.
O conflito iemenita já deixou mais de 8 mil mortos e 45 mil feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em um comunicado, o governo do presidente Mansur Hadi anunciou que apoia a decisão da coalizão árabe e a ruptura das relações diplomáticas com o país.
O governo iemenita denunciou o Catar por "abusos, vínculos com as milícias de conspiradores e apoio aos grupos extremistas".
A Arábia Saudita, que tem as Forças Armadas com melhores equipamentos do Oriente Médio, depois de Israel, é um dos principais compradores de armas do mundo e também um dos grandes aliados de Washington na região, frente ao Irã e contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e Iraque.
Catar enfrentava há muito tempo as acusações de ser um Estado que apoia o "terrorismo". O apoio de Doha a grupos rebeldes que lutam contra o presidente sírio Bashar al-Assad e vários cidadãos do país foram objetos de sanções do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, sob a acusação de financiar atividades "terroristas".