Multiplicam-se as denúncias de que o governo de Donald Trump está envolvido com o vazamento de informações sigilosas à Rússia. Uma delas aponta que o próprio Trump teria repassado aos russos durante uma reunião com o chanceler Serguei Lavrov, na semana passada, seria relacionada ao plano do grupo extremista Estado Islâmico de usar computadores portáteis para colocar bombas em aviões comerciais.
Outra das denúncias tem relação direta com a demissão de James Comey, então diretor do FBI, que ocorreu um dia depois da reunião com Lavrov. Comey conduzia uma investigação sobre o suposto conluio entre a Rússia e o comitê de campanha de Trump nas eleições presidenciais do ano passado e teria sido forçado pelo presidente americano a encerrar o caso.
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Na linha do tempo, como a crise se desenvolveu no governo dos Estados Unidos:
Outubro de 2016
James Comey, então diretor do FBI, recomenda que o Congressos investigue Hillary Clinton sobre troca de e-mails cujo conteúdo seria secreto. As mensagens teriam sido trocadas quando ela era secretária de Estado no governo de Barack Obama. "O FBI tomou conhecimento da existência de correios que parecem ser pertinentes à nossa investigação", escreveu Comey aos legisladores em carta divulgada por eles.
Na ocasião, Trump, que ainda era candidato à presidência, declarou: "Eu tenho grande respeito ao fato de o FBI e o Departamento de Justiça agora estarem dispostos a corrigir o terrível erro que cometeram".
Hillary Clinton acusou Comey de ter desempenhado um pequeno papel em sua derrota.
Janeiro de 2017
De acordo com o jornal The New York Times, Trump, dias antes de assumir a presidência, chama Comey e outros chefes da inteligência americana para a primeira reunião. O grupo informa a Trump sobre um relatório que indica que a Rússia teria se envolvido nas eleições dos Estados Unidos.
Menos de uma semana depois de assumir a presidência, Trump é informado de que o FBI interrogou o conselheiro de segurança nacional, Michael T. Flynn, sobre suas comunicações com o embaixador russo. O jornal revela que Comey diz a Trump que ele não estaria sob investigação e que o presidente faz o então diretor do FBI prometer lealdade.
Fevereiro de 2017
Flynn, que era a principal autoridade na área de segurança norte-americana, renuncia, após escândalo sobre uma conversa que teve com um embaixador russo nos Estados Unidos, Sergei Kisliak. Em carta de demissão, Flynn disse que fez vários telefonemas para o embaixador russo durante o período de transição do ex-presidente Barack Obama para Donald Trump.
Na carta, ele admitiu que deu "informações incompletas" ao vice-presidente norte-americano, Mike Pence, e outros funcionários do governo sobre essas conversas. O ex-assessor de Trump também passa a ser investigado pela suspeita de ter recebido valores de empresas ligadas ao governo russo.
Um dia depois da demissão, Trump teria pedido a Comey, segundo revela o The New York Times, que as investigações do FBI sobre a relação entre Flynn e autoridades russas sejam encerraradas. A solicitação estaria registrada em um memorando que Comey escreveu após uma reunião com Trump.
Março de 2017
O secretário de Justiça norte-americano, Jeff Sessions, teria mantido contatos com o embaixador russo nos Estados Unidos durante a campanha presidencial, conforme revelações do jornal Washington Post. Trump volta a negar supostos vínculos com a Rússia, país que é acusado de interferir na campanha eleitoral norte-americana de 2016.
Uma nova reportagem do jornal Indianapolis Star afirma que obteve e-mails que mostram que o vice-presidente, Mike Pence, utilizou uma conta privada para discutir "assuntos sensíveis e questões de segurança interna". Durante a campanha presidencial, Pence criticou Clinton pelo uso de um servidor de e-mail privado para as comunicações oficiais, um escândalo que a seguiu até o fim da disputa.
Em 4 de março, Trump tuitou: "Eu apostaria que um bom advogado poderia levar adiante um caso pelo fato de que o presidente Obama grampeou meus telefones em outubro, antes da eleição". Em outro post, Trump continuou: "Como o Presidente Obama caiu tão baixo a grampear meus telefones durante o sagrado processo eleitoral. Isso é Nixon/Watergate. Cara ruim (ou doente)". Um porta-voz de Obama afirmou neste sábado que o ex-presidente americano jamais ordenou que se espionasse os cidadãos do país.
Comey pede ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que rejeite publicamente as alegações de Trump de que Obama teria ordenado o monitoramento dos telefones do republicano. O então diretor do FBI teria feito o pedido no mesmo dia em que Trump publicou as acusações no Twitter.
No dia 20, Comey confirma em uma audiência que o FBI está investigando a relação entre os russos e a campanha de Trump e diz que não há evidência para apoiar as declarações do presidente de escutas telefônicas.
Abril de 2017
Em entrevista à Fox News, Trump diz que "não é tarde demais" para demitir Comey, mas que tem confiança no diretor do FBI.
Maio de 2017
Trump tuita que "Comey foi a melhor coisa que já aconteceu com Hillary Clinton".
No dia 3, durante uma audiência do Comitê Judiciário do Senado, Comey defende sua decisão de notificar o Congresso sobre novo e-mails na investigação sobre Clinton, dias antes da eleição.
No dia 8, Trump discute com pelo menos seis conselheiros sobre sua frustração em relação a Comey, segundo revelações do The New York Times. O presidente teria procurado o Procurador-Geral Jeff Sessions e o vice-procurador-geral, Rod J. Rosenstein para discutir a demissão de Comey. No mesmo dia, Trump tuita que é uma farsa a história de que tem ligações com a Rússia.
No dia seguinte, Trump demite Comey. O ex-diretor do FBI fica sabendo de sua demissão pela televisão. Um dia depois, o presidente recebe o chanceler russo, Serguei Lavrov. Lavrov busca o apoio dos Estados Unidos ao plano de Moscou de estabelecer zonas de segurança na Síria.
No dia 12, o presidente da Rússia, Vladimir Putin diz que as relações entre a Rússia e os Estados Unidos pioraram desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca.
No dia 15, o jornal The Washington Post publica reportagem afirmando que o presidente Donald Trump revelou informação altamente confidencial para o chanceler russo e para o embaixador da Rússia nos Estados Unidos durante uma reunião recente na Casa Branca. A informação fornecida por Trump diz respeito ao grupo Estado Islâmico (EI) e foi comunicada por um aliado dos Estados Unidos que não havia dado autorização a Washington para compartilhá-la com Moscou, detalha o jornal. As informações que Trump repassou à Rússia teriam sido fornecidas por Israel.
Um dia depois, o jornal The New York Times revelou que Trump pediu ao ex-diretor do FBI James B. Comey para encerrar o inquérito que investiga as ligações entre o ex-assessor de segurança nacional e Michael Flynn e autoridades russas. Nesta quarta-feira (17), a Câmara dos EUA pediu ao FBI que entregue documentos de conversas entre Trump e Comey.
Por meio de nota, a Casa Branca negou a versão apresentada pelo memorando de Comey e afirmou que Trump nunca pediu o encerramento de investigações. "Embora o presidente tenha repetidamente expressado a opinião de que o general Flynn é um homem decente que serviu e protegeu o nosso país, o presidente nunca pediu ao Sr. Comey ou a qualquer outra pessoa para encerrar qualquer investigação, incluindo qualquer apuração envolvendo o general Flynn", diz o comunicado.