O julgamento de mais de 200 supostos líderes do golpe de Estado frustrado de 15 de julho do ano passado começou nesta segunda-feira (22), em Ancara. O principal suspeito pela articulação é o pregador islamita Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos.
Entre as 221 pessoas julgadas, estão 26 generais e 12 civis. No total, 200 estão em detenção provisória, nove em liberdade sob controle judicial e 12 são consideradas foragidas. As acusações incluem "violação da Constituição, assassinato de 250 pessoas e pertencer e dirigir uma organização terrorista".
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O julgamento acontece na prisão de Sincan, região de Ancara, onde foi construída uma grande sala de audiências para o processo. Nas proximidades do tribunal, muitos policiais foram mobilizados, assim como veículos blindados, um drone e franco-atiradores.
Na sala de audiências, os acusados permaneceram cercados por policiais e militares. Apenas cinco dos nove acusados que são julgados em liberdade estavam na audiência, que foi suspensa até a chegada dos quatro que faltavam, prevista para o início da tarde. Um juiz lerá, então, as acusações contra os réus.
O ex-comandante das Força Aérea Akin Ozturk, um dos acusados mais conhecidos, deve falar à tarde. Outros acusados conhecidos são o ex-general Mehmet Disli, irmão de um deputado do partido governista AKP, e o coronel Ali Yazici, ex-assessor do presidente Recep Tayyip Erdogan.
A leitura dos nomes dos acusados foi interrompida diversas vezes por gritos do público. Algumas pessoas exibiam fotos dos parentes mortos na noite de 15 de julho. Uma mulher, que não parava da gritar "traidores", desmaiou e recebeu atendimento médico.
Na chegada ao tribunal, escoltados pelas forças de segurança, os réus foram vaiados por dezenas de manifestantes que pediam a pena de morte.
A pena de morte na Turquia foi abolida em 2004, uma das exigências da União Europeia para aceitar a candidatura de adesão do país ao bloco. Mas desde a tentativa de golpe, Erdogan afirmou em várias oportunidades que estava disposto a restabelecer a pena capital e mencionou a possibilidade de um referendo sobre o tema.
A tentativa de golpe de Estado de julho do ano passado deixou quase 250 mortos, sem incluir os supostos golpistas. Ainda foram registrados milhares de feridos.
Ancara acusa Fethullah Gülen de ser o idealizador do golpe e pede a Washington a extradição do pregador. Ex-aliado do presidente turco, Gülen nega envolvimento com o golpe.
De acordo com a acusação, mais de 8 mil militares participaram na tentativa golpista. Eles utilizaram 35 aviões de guerra, 37 helicópteros, 74 tanques, 246 veículos blindados e quase 4 mil armas leves.
Os processos judiciais, amparados pelo estado de emergência instaurado após o golpe, não têm precedentes na Turquia. Mais de 47 mil pessoas foram detidas nos expurgos desde 15 de julho.
A grande sala de audiência de Sincan recebeu, em fevereiro, o julgamento de 330 réus.
*AFP