O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu mais uma vez ao anunciar, na terça-feira (9), a demissão do diretor do FBI (a Polícia Federal norte-americana), James Comey, que estava à frente da agência encarregada da investigação sobre os laços da campanha do republicano com a Rússia.
De acordo com o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, "o presidente aceitou a recomendação do procurador-geral e do vice-procurador-geral, em relação à demissão do diretor do Federal Bureau of Investigation". Ainda segundo Spicer, a busca por um novo diretor começa "imediatamente".
Leia mais
Trump adia decisão sobre Acordo de Paris para depois da cúpula do G7
Líder palestino se diz "disposto" a reunião com primeiro-ministro israelense
Trump anuncia primeira viagem ao Exterior
Em uma carta, Trump disse a Comey: "você está, por meio desta, eliminado e exonerado do cargo, com efeito imediato".
"Embora eu aprecie enormemente você me informando, em três ocasiões diferentes, que não estou sob investigação, concordo com o julgamento, porém, do Departamento da Justiça, de que você não está apto a efetivamente liderar o Bureau", declarou. "É essencial que encontremos uma nova liderança para o FBI que restaure a confiança do público em sua missão vital de aplicação da lei", insistiu.
Os diretores do FBI (a Polícia Federal americana) são nomeados para um mandato único de dez anos. Comey, de 56 anos, bastante popular entre os agentes, tomou posse há quatro anos.
O ex-procurador federal e ex-subsecretário de Justiça ocupava, de fato, um posição cada vez mais difícil desde que recaiu sobre o FBI a investigação sobre a denúncia de ingerência russa na eleição presidencial de 2016.
Depois do explosivo caso dos e-mails da ex-secretária de Estado Hillary Clinton e do caso ainda mais sensível sobre a Rússia, aumentaram as acusações de Donald Trump a seu antecessor Barack Obama de que teria espionado seus telefonemas. Tudo acabou colocando Comey no centro nevrálgico das turbulências, com a missão impossível de evitar atritos com a Casa Branca.
Comey nem sempre seguiu à risca a cartilha de boa convivência com Trump, negando categoricamente, por exemplo, a veracidade dos grampos telefônicos. E fez isso sem se afastar da calma que caracteriza o ex-diretor, especialista em audiências perante comitês no Congresso.
No olho do furacão
A campanha de Hillary Clinton foi diretamente influenciada quando Comey recomendou, em uma inesperada entrevista coletiva, em julho de 2016, que não denunciaria a candidata democrata pelo caso dos e-mails enviados de um servidor privado durante sua gestão na diplomacia, mas comentou que a candidata democrata havia demonstrado "uma grande negligência".
Naquele dia, Comey colocou a ex-primeira-dama na berlinda em plena campanha, mas não agradou aos republicanos, que esperavam vê-la formalmente acusada perante da Justiça.
Depois, no final de outubro – dez dias antes da eleição em 8 de novembro –, Comey anunciou a retomada das investigações sobre os e-mails. O então diretor do FBI foi aplaudido pelos republicanos, que elogiaram sua autonomia – essa mesma autonomia da qual haviam duvidado há apenas poucos meses. Tudo parecia indicar que era capaz de liderar o FBI em meio às águas turbulentas da política extremamente partidarizada em Washington.
Notoriamente marginalizado pelos republicanos, Comey foi nomeado por Obama, mas Trump decidiu mantê-lo no cargo, após 20 de janeiro, início de seu governo.
No governo Obama, Comey ofuscou com frequência sua superior hierárquica, a então secretária de Justiça, Loretta Lynch. Ela ratificou as recomendações do chefe da Polícia Federal americana de não acusar Hillary.
Com a investigação polêmica, Comey consolidou sua fama de franco-atirador, aguentando os ataques de todos os lados e saindo incólume. Até agora.
*AFP