A União Europeia quer garantias de que os governos do Mercosul serão previsíveis em relação à aplicação ou mudanças de leis que afetem o comércio. Bruxelas apresentou uma proposta formal para que um capítulo sobre transparência seja incluído nas negociações entre os dois blocos e que muitos esperam que esteja concluído no final de 2017.
Ao jornal O Estado de S.Paulo, diplomatas indicaram que a exigência de um acordo de transparência não é exclusivo ao Mercosul. Mas também destacam que, diante do questionamento sobre a estabilidade das leis, burocracia, fraude e até os escândalos de corrupção no país, a nova exigência de transparência passou a ganhar um peso maior.
Leia mais
Mercosul e Aliança do Pacífico querem ampliar comércio na América do Sul
Após crise na Venezuela, Mercosul aplica cláusula democrática
Em março, Argentina convocou reunião urgente para discutir situação na Venezuela. Relembre
Pelo rascunho de um acordo apresentado pela Europa, o texto exige que governos "reconheçam o impacto que seus ambientes regulatórios podem ter no comércio e investimentos". O documento propõe que estados "promovam um ambiente regulatório previsível e transparente e procedimentos eficientes para operadores econômicos".
Negociado desde 1999, o acordo Mercosul-Europa pode finalmente ser concluído neste ano. Mas Bruxelas, conforme o jornal revelou, vem apresentando uma série de novidades em comparação aos textos originais, incluindo meio ambiente, relações trabalhistas e até mesmo a transparência administrativa.
Os europeus, que querem avançar para fechar um acordo, têm sido pressionados por grupos protecionistas dentro do bloco a exigir do Mercosul garantias que impeçam "surpresas" uma vez que o acordo esteja em aplicação. Outra demanda dos grupos protecionistas é de que as condições de produção no Cone Sul se aproximem da Europa, reduzindo a vantagem competitiva de algumas exportações.
De acordo com negociadores, uma das queixas que médias e pequenas empresas europeias mais fazem sobre a relação comercial com o Mercosul é a imprevisibilidade das leis e a falta de transparência administrativa.
Bruxelas, portanto, apresentou um texto pelo qual cada governo que faça parte de um eventual acordo comercial "crie mecanismos apropriados para receber e responder a questionamentos de qualquer pessoa relacionados com medidas de aplicação geral".
Pelo rascunho do acordo proposto, cada governo precisa se comprometer em "dar informação e responder a questionamentos sobre qualquer medida", além de garantir que mudanças de leis sejam explicadas e que seus objetivos sejam claros.
Outra exigência dos europeus se refere ainda à administração pública no Mercosul. "Cada estado parte deve administrar de uma maneira objetiva, imparcial e razoável todas as medidas de aplicação geral", recomenda o rascunho do acordo, que ainda estima que os mecanismos administrativos devem dar a oportunidade para quem questionar decisões o possa fazer dentro de um tempo adequado.
O pacote de medidas ainda prevê que os governos "criem ou mantenham tribunais administrativos ou procedimento para uma revisão, correção de uma decisão administrativa". A revisão ainda precisa ocorrer de forma "não discriminatória e imparcial".
Disputas
No novo acordo comercial, ainda existe uma diferença de posições sobre como eventuais disputas serão solucionados quando surgirem dentro do novo megabloco. A Europa, há duas semanas, fez uma proposta de incluir um capítulo sobre mediação de eventuais controvérsias.
Mas, num informe resumindo o estado atual da negociação, Bruxelas admitiu que os "procedimentos de cumprimento das leis e a escolha do fórum continuam sendo problemas difíceis".
O projeto prevê tribunais, audiências e mesmo a possibilidade de retaliações entre parceiros que descumprirem as regras do novo acordo comercial.
*Estadão Conteúdo