Karim Cheurfi, de 39 anos, que matou um policial no Champs-Élysées em Paris na quinta-feira à noite, era reincidente, obcecado com a ideia de atacar policiais, mas não era conhecido como um islâmico radicalizado. Cheurfi foi morto em uma troca de tiros com os policiais.
– Aqui, todo mundo o conhecia. Era alguém que havia perdido a razão, cujo psicológico foi realmente afetado – revelou, sob condição de anonimato, um vizinho de Cheurfi do bairro de Chelles, subúrbio a nordeste de Paris.
Leia mais
Atentado abala a campanha a 48 horas da eleição presidencial na França
Trump diz que atentado em Paris terá "grande efeito na eleição presidencial"
Atirador da Champs-Élysées tinha policiais como alvo
O homem disse conhecê-lo há mais de vinte anos.
– Suas ações, reações, a maneira de andar, sua atitude eram totalmente descompensadas, como se tivesse vindo de Marte – acrescenta.
Nascido em 31 de dezembro de 1977 em Livry-Gargan, outra localidade da região parisiense, foi preso em 23 de fevereiro depois de declarar a um colega, em dezembro, querer "matar policiais em retaliação ao que estava acontecendo na Síria", ter feito contatos para comprar armas e facas, uma câmera e máscaras online. Após sua detenção, foi libertado por falta de provas, de acordo com uma fonte próxima à investigação. Desde março, porém, Cheurfi era alvo de uma investigação por terrorismo, de acordo com essas fontes.
O atirador, sem ocupação conhecida, já havia passado várias vezes pela justiça, por roubos e três tentativas de assassinato. Em fevereiro de 2005, foi condenado a 15 anos de prisão por tentar matar um estudante que usava uma braçadeira da polícia e o irmão do mesmo.
O caso aconteceu em 2001: Karim Cheurfi, dirigindo um carro roubado, fugia após bater em um outro veículo. Armado com um revólver, feriu gravemente os dois irmãos que tentavam persegui-lo. Dois dias depois, tentou matar um outro policial.
Ódio contra a polícia
Libertado da prisão em julho de 2013, voltou a ser condenado em 2014 por roubo, agravado a quatro anos de prisão, mas foi finalmente colocado em liberdade condicional em 2015.
De acordo com uma fonte próxima à investigação, Cheurfi não apresentou sinais de radicalização na detenção.
– Ele foi marcado pela prisão, mas não marcado pela religião – considerou Mohammed, de 21 anos, que vive em um edifício perto do pavilhão onde Karim Cheurfi morava com a mãe. – Ele tinha um ódio pela justiça e pela polícia (...), que pode ter explodido ao sair da prisão.
Após ser colocado em liberdade condicional, não voltou a criar a problemas.
– Ele conseguiu fazer com que esquecessem um pouco dele – diz uma fonte policial.
Seu ataque no Champs-Élysées foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), mas a reivindicação é questionável, já que a organização forneceu o nome de guerra de um jihadista belga chamado de "Abu Yussef o belga". Mesmo assim, uma mensagem manuscrita em defesa do "Daesh" (sigla do EI em árabe) foi encontrada perto do corpo do atirador, e um Alorão em seu carro.
Na vizinhança, Karim Cheurfi não é descrito como um homem radicalizado que poderia gravitar na nebulosa jihadista salafista.
– Ele não sabia nem usar um controle remoto, quanto mais acessar a internet e entrar em contato com o Daesh, imagino que não! – brinca Salim.
Abdel, outro vizinho de 23 anos, concorda:
– Ele tinha ódio da polícia, da França. Ele foi marcado pela prisão. Mas associá-lo ao Daesh é bobagem.
O homem não era conhecido por ter qualquer prática muçulmana.
– Costumo ir à mesquita, eu nunca o vi – disse Salim.
*AFP