A oposição venezuelana iniciou neste sábado uma série de protestos para exigir ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que respeite a autonomia do Parlamento, onde é maioria, e para pedir eleições, que considera a "única saída" para a crise política.
– Eleições gerais, nada de diálogo. Eles violaram a Constituição tentando anular o Parlamento e agora voltam atrás, mas continuamos em ditadura – disse à AFP Eugenia Salazar, aposentada de 67 anos que compareceu a uma sessão legislativa realizada pela maioria opositora da Assembleia em uma praça de Caracas.
Leia mais:
Chavismo sofre racha diante de ofensiva contra Parlamento
OEA realiza sessão urgente sobre crise na Venezuela
Episódios definem ruptura na democracia venezuelana
No debate, onde havia cerca de mil pessoas, os deputados propuseram remover os magistrados da Sala Constitucional do TSJ, que esta semana emitiram uma sentença com a qual assumiram as funções do Legislativo, embora tenham se retratado depois, após uma reunião entre os poderes públicos.
– Esses magistrados cometeram um delito e têm responsabilidade penal, na terça-feira devemos iniciar o processo para destitui-los – expressou Stalin González, líder da bancada opositora, que foi aplaudido.
Embora desconheça as decisões do Supremo, Néstor Ramos, de 67 anos, compareceu à sessão para pedir eleições, "cansado de não conseguir" seus remédios.
– Sou diabético e não consigo insulina. (...) Isto nunca tinha acontecido aqui. Não me importa o TSJ, quero eleições e que vão todos embora – disse à AFP.
Após a sessão, os deputados e parte dos manifestantes tentaram caminhar até a Defensoria do Povo para pedir ao seu titular, Tareck William Saab, que rejeite as sentenças judiciais, como fez na sexta-feira a procuradora-geral, Luisa Ortega, ligada ao chavismo, que as considerou uma "ruptura da ordem constitucional".
No entanto, militares e policiais impediram a passagem dos manifestantes e os dispersaram com gases lacrimogêneos, que atingiram vários deputados.
A reação de Ortega motivou uma reunião na sexta-feira do Conselho de Defesa, convocada por Maduro, na qual os poderes do Estado - exceto o Legislativo - exortaram o TSJ a revisar as sentenças.
Durante a manifestação, o presidente do Parlamento, Julio Borges, disse que o "golpe de Estado" - como qualificou os ditames - continua, apesar do tribunal ter se retratado, e pediu que os protestos sejam mantidos.
Os deputados decidiram marchar na terça-feira até o Parlamento para iniciar a discussão sobre os magistrados.
Sua remoção requereria a autorização do Poder Cidadão, formado pela procuradora, o defensor e o auditor fiscal do Estado, acusados pela oposição de servir ao chavismo.
Também houve pequenos protestos em vários Estados do país.