Estudantes chilenos protagonizaram nesta terça-feira (11) um protesto no centro de Santiago em repúdio ao avanço no Congresso de um projeto de lei que busca instaurar a gratuidade no ensino superior, o qual exigem que seja reformulado.
As organizações estudantis convocaram a primeira manifestação do ano quando o Congresso chileno se preparava para votar a aprovação geral da esperada nova lei de Educação Universitária, que estabelece a gratuidade universal sob certas condições de crescimento econômico.
O emblemático projeto, parte de uma grande reforma impulsionada pelo governo de Michele Bachelet, tem a intenção de ampliar a gratuidade da educação universitária sempre e quando forem cumpridas algumas metas econômicas. Quanto maior o crescimento, mais ampla será a classe de beneficiados. Além disso, estabelece a proibição efetiva da obtenção de lucros com a educação.
"A reforma não é suficiente, falta gratuidade e falta qualidade na educação pública. Falta muito e por isso temos que protestar", comentou à AFP Rocío, uma estudante de Ciências Sociais que se juntou à manifestação quando passava em frente à sede do governo chileno.
"É uma desilusão" esta reforma, comentou Juan Pablo de la Torre, outro dos milhares de estudantes que compareceram à marcha.
Logo no início do protesto, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e os manifestantes responderam com pedras e pedaços de madeira, ameaçando o clima festivo e pacífico que permaneceu durante grande parte do tempo. Também houve outros confrontos com a polícia no fim da marcha.
A Confederação de Estudantes do Chile (Confech) estimou que 90.000 pessoas tenham comparecido ao protesto.
Futuro incerto
O projeto de ensino superior, que ingressou no Congresso em julho de 2016, será votado nesta terça-feira na comissão de Educação da Câmara dos Deputados, dando início a um longo e difícil trâmite parlamentar.
Os estudantes querem que impeçam a análise desta nova lei "porque é um projeto inicial pior", falou a jornalistas o porta-voz estudantil, Patricio Medina.
Os discentes acusam o governo de Bachelet de ignorar suas opiniões e legislar, com maioria em ambas as Câmaras, sem levar em conta os movimentos sociais, fundamentais para impulsionar a reforma de um sistema educacional herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Este sistema facilitou a criação de universidades privadas e desmontou a educação pública em todos os seus níveis, ao reduzir drasticamente os recursos destinados a ela.
Para adiantar os benefícios desta nova lei, o governo de Bachelet optou em 2016 por estabelecer mediante a Lei de Orçamento Geral da Nação a gratuidade universitária para dezenas de milhares de estudantes chilenos, os primeiros a estudar sem custos em décadas.
Este ano, repetiu a fórmula, beneficiando 200.000 alunos, mas agora deve assegurar uma lei que garanta o benefício a longo prazo.
Mas, com a proximidade das eleições presidenciais, o movimento estudantil começou a pressionar pela concretização de uma educação pública, gratuita e de qualidade no Chile.
Neste contexto, o ex-presidente de direita Sebastián Piñera, cujo primeiro mandato viveu o renascimento do movimento estudantil, lidera as pesquisas com 25% das intenções de voto.
Confirmando seu caminho para a reeleição, Piñera - que teve sua afirmação de que a "educação é um bem de mercado" reprovada pelo movimento estudantil - assegurou que não apoia a gratuidade universal, e que, caso voltasse ao poder, optaria por um sistema de bolsas e créditos.
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