Manifestações, condenações internacionais e indignação global: nove dias depois de chegar ao poder, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrentou neste domingo avalanche de críticas, após sua decisão de fechar as fronteiras a todos os refugiados e a cidadãos de sete países de maioria muçulmana. Milhares de manifestantes se reuniram para protestar contra a medida, e chefes de Estado criticaram duramente a decisão.
O magnata nada mais fez que cumprir suas promessas de campanha, defendeu seu porta-voz, Sean Spicer, em alusão à assinatura, durante toda a semana, de ordens executivas sobre saúde, imigração clandestina, combate ao extremismo e petróleo.
Entenda, a seguir, como o decreto de Trump anti-imigração afeta muçulmanos e refugiados que queiram entrar nos Estados Unidos, além de pessoas ligadas ao cinema e ao esporte.
Pessoas afetadas
Síria: todos os sírios, cujo país vive guerra desde 2011, são proibidos de entrar em território americano até nova ordem.
Cidadãos de Iraque, Irã, Iêmen, Somália, Sudão e Líbia: o texto proíbe que entrem nos Estados Unidos durante 90 dias, período no qual serão revistos os critérios de concessão de vistos.
A Casa Branca e o Departamento de Estado afirmaram que o decreto envolve todos os cidadãos desses países, com exceção dos que têm dupla nacionalidade americana e certos vistos diplomáticos.
Programa de admissão de refugiados
O decreto suspende durante 120 dias o programa de admissão de refugiados, um dos mais ambiciosos do mundo para a recepção de vítimas de conflitos. Criado em 1980, permitiu que os Estados Unidos acolhessem 2,5 milhões de pessoas. O programa já havia sido congelado durante três meses, logo depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
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Apple, Google e Facebook
Os CEOs de Netflix, Google e Apple, entre outros, se manifestaram contra a medida, e recomendaram que todos os funcionários a trabalho fora do país retornem imediatamente.
O indiano Sundar Pichai, do Google, escreveu um memorando à companhia criticando o decreto: "É doloroso ver o custo pessoal deste decreto em nossos colegas. Estamos tristes como essa medida pode impor restrições a funcionários do Google e suas famílias, ou como ela pode criar barreiras para trazer grandes talentos aos Estados Unidos", escreveu ele.
O CEO da Apple, Tim Cook, lembrou, em e-mail interno para os funcionários, que "a Apple não existiria sem imigração", uma vez que o fundador da companhia, Steve Jobs, é filho de sírios.
Mark Zuckerberg e Reed Hastings – CEOs do Facebook e da Netflix, respectivamente – fizeram manifestações menos formais. "Os Estados Unidos são uma nação de imigrantes, e devíamos nos orgulhar disso", afirmou Mark Zuckerberg. Hastings classificou a medida como "não americana", e chamou a população dos EUA a "dar os braços" e lutar contra o decreto de Trump.
Companhias aéreas
A proibição de viagens para pessoas com nacionalidade de sete países do Oriente Médio pegou a indústria aérea despreparada, com a tripulação de voo desses locais também proibida de entrar no país, disse a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês).
A Fiscalização de Alfândega e Proteção de Fronteira dos EUA informou ao grupo que os portadores de passaportes de países como Irã e Iraque, incluindo a tripulação de cabine, serão impedidos de entrar nos EUA.
As companhias aéreas dizem que podem perder negócios, citando como exemplo os cerca de 35 mil viajantes do Irã que visitaram os EUA em 2015.
Jogos olímpicos
O capitão da seleção americana de futebol, Michael Bradley, criticou as restrições migratórias. As medidas poderiam ter consequências negativas sobre a candidatura de Los Angeles aos Jogos Olímpicos de 2024. A cidade compete com Budapeste e Paris para receber o maior evento esportivo do mundo, cuja escolha será feita em setembro, em Lima, no Peru.
Cinema
O cineasta iraniano Asghar Farhadi, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro por O Apartamento, anunciou ontem que não comparecerá à cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Hollywood.