Escrever um livro, trabalhar com jovens oriundos de minorias, ajudar a reconstruir um Partido Democrata em frangalhos: Barack Obama prometeu ser um cidadão ativo quando deixar, nesta sexta-feira, a Casa Branca – onde viveu e trabalhou por oito anos.
Aos 55 anos, um ano mais novo do que Bill Clinton ao final da sua presidência, armado com uma forte taxa de aprovação, ele diz que quer se envolver em novos projetos e evitar a todo o custo ser "o velho tipo que fica no bar gabando-se de suas glórias passadas".
Ele anunciou que não participará da política diretamente. E disse que não iria comentar, exceto sobre questões relativas "aos fundamentos da democracia", as iniciativas de seu sucessor Donald Trump que ele, durante a campanha, denunciou com virulência.
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Em curto prazo, a partir da tomada de posse do seu sucessor na sexta-feira, ele partirá de férias em Palm Springs (Califórnia) com sua esposa, Michelle, e suas duas filhas adolescentes. E depois?
– Eu preciso ficar quieto por um tempo. Não só politicamente, mas também em mim mesmo. Tenho de digerir tudo o que aconteceu – explicou há poucos dias em uma entrevista na CNN com seu ex-conselheiro David Axelrod.
Os ex-presidentes raramente permanecem na capital dos Estados Unidos depois de ter trabalhado e vivido em um dos mais antigos edifícios públicos. Jimmy Carter retornou à Geórgia, Ronald Reagan para a Califórnia. Bill Clinton aptou por Nova York, onde criou sua fundação e onde sua esposa, Hillary, lançou sua carreira política como senadora.
Barack Obama, que nunca expressou verdadeiro entusiasmo por Washington, alugou uma casa onde viverá até que sua filha mais nova, Sasha, conclua o ensino médio.
Em médio prazo, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos evocou a sua vontade de trabalhar com os jovens oriundos de minorias em bairros pobres, onde o abandono escolar, o desemprego e a taxa de prisão são claramente mais elevados que em outras partes, "em razão das desigualdades de oportunidades".
Reconstrução do Partido Democrata
A surpreendente derrota de Hillary Clinton e a vitória de Donald Trump, que ele admite não ter visto se aproximar, também mudou a situação. E o presidente democrata deixou claro a sua intenção de participar na reconstrução do seu partido.
– Eu quero fazer tudo o possível para melhorar e ajudar a próxima geração, não só a nível político mas também o engajamento cívico. Tenho contatos e acredito que a credibilidade de fazê-lo de uma forma original.
E Barack Obama tem a intenção de pesar a balança para que seu partido vá mais longe, estando presente nos redutos democratas que são as grandes cidades, mas também em áreas "onde as pessoas se sentem ignoradas".
Vários ex-inquilinos da Casa Branca conseguiram deixar marcas de sua vida pós-presidência. Derrotado em 1829 após um mandato, John Quincy Adams foi eleito para o Congresso, onde atuou até o fim de sua vida. Agraciado por uma excelente habilidade oratória, ele impressionou as pessoas ao combater incansavelmente a escravidão.
William Howard Taft (1909-1913) entrou para a Suprema Corte. O ex-presidente da prestigiada Harvard Law Review e apaixonado por Direito, Barack Obama já disse que não estava interessado:
– Muito monástica para mim – decretou.
Retorno à universidade
A exemplo de seus dois antecessores democratas ainda vivos – Jimmy Carter e Bill Clinton – que criaram fundações respeitados para além das fronteiras dos Estados Unidos, este poderia ser um marco.
Barack Obama deve se apoiar em seu centro presidencial que será construído em Chicago, para desenvolver muitas das suas iniciativas.
Rumores recorrentes apontam o desejo de dar aulas na Universidade de Columbia (Nova York), onde estudou no início dos anos 80.
– O contato com os estudantes me faz falta – ele confidenciou à revista New Yorker no outono de 2014.
Exercício ritual e extremamente lucrativo para os "ex" – a imprensa americana evoca um contrato superior a US$ 20 milhões –, Barack Obama, autor de dois livros de sucesso (Dreams from my father e The Audacity of Hope) também tem planos de escrever suas memórias.
Para isso, poderá se apoiar no diário que ele escreve desde que era estudante e que também manteve durante seus dois mandatos na Casa Branca, mas "não com o rigor" que ele desejava:
– Eu simplesmente não tinha tempo.