Quando o empresário Donald J. Trump anunciou, em junho de 2015, a intenção de disputar a Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, poucas pessoas o levaram a sério e imaginaram que o empresário de 70 anos acabaria por escrever uma incrível página na história do país. Impulsivo, excessivo e com um ego gigantesco, Trump desafiou todas as previsões e surpreendeu o mundo em novembro ao se tornar o sucessor do presidente Barack Obama na Casa Branca.
Com discursos corrosivos que encontram ressonância nas frustrações e inseguranças dos americanos em um mundo em mutação, o magnata republicano de 70 anos foi a voz da mudança para milhões de cidadãos.
Em sua campanha agressiva para a Casa Branca, o bilionário provocou a explosão do Partido Republicano, incapaz de compreender seus eleitores e de responder às suas necessidades.
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Antes de iniciar a campanha, o empresário era mais conhecido por sua imensa fortuna, por seus hotéis luxuosos, campos de golfe e cassinos que levam seu sobrenome, assim como por seus divórcios que ganharam espaço na imprensa sensacionalista e por ser o apresentador do reality show O Aprendiz.
Mas Trump demonstrou ser um formidável "animal político", um herói improvável da classe trabalhadora, com a promessa de "tornar os Estados Unidos grandes de novo".
Durante a campanha das primárias, destruiu sem piedade nos debates políticos os líderes experientes do partido e, em outro gesto sem precedentes, decidiu não aceitar dinheiro de doações para a sua campanha. Ele afirma ter financiado sua trajetória à Casa Branca com dinheiro próprio, em uma decisão que marcou uma enorme diferença com o resto de seus adversários.
Polêmicas sem fim
Trump avançou rompendo com todos os moldes. Denunciou um sistema político "manipulado" e acusou funcionários de "corruptos". Também afirmou que a imprensa, em sua opinião, "envenena o espírito dos americanos". Sem hesitação, insultou mulheres e latinos, e despertou a rejeição dos eleitores negros.
Apresentou soluções simples para problemas complexos: para deter a imigração clandestina, pretende construir um muro na fronteira mexicana, que seria pago pelo México. Anunciou a intenção de expulsar 11 milhões de pessoas que vivem ilegalmente no país, em sua maioria latino-americanos. E prometeu devolver empregos aos Estados Unidos renegociando acordos comerciais internacionais.
Para prevenir ataques, defendeu a proibição de entrada no país de imigrantes procedentes de nações com "uma história comprovada de terrorismo", depois de ter afirmado que rejeitaria todos os muçulmanos.
A simplicidade de sua oratória encontrou um instrumento perfeito nos 140 caracteres do Twitter, e assim transformou sua página pessoal na rede social em uma poderosa máquina política capaz de alterar a direção da bolsa de valores com apenas um curto tuíte.
E não faltaram polêmicas. Durante a campanha, as pessoas responsáveis por verificar fatos detectaram várias mentiras de Trump, sobre os mais variados temas.
Quando várias mulheres o acusaram de comportamento inapropriado e gestos sexuais, chamou todas de mentirosas. Além disso, a divulgação de um vídeo em que Trump faz comentários sexistas causou grande alvoroço.
Dias depois de vencer a eleição presidencial, Trump se viu envolvido em um enorme e amargo escândalo, depois que os serviços de inteligência americano afirmaram que ele recebeu "ajuda" da Rússia para derrotar Hillary Clinton.
Trump nega que a eleição tenha sido decidida pelos ataques cibernéticos russos, e defende que "apenas os estúpidos" se opõem a uma melhoria nas relações entre Washington e Moscou.
E, apesar da rispidez das relações com os órgãos de inteligência, Trump montou um gabinete conservador, e nomeou como seu assessor especial Steve Bannon, apontado como símbolo da extrema-direita racista durante a campanha.
Convicções variáveis
À margem de seu perfil político, sua vida privada é marcada pelo luxo. Sua esposa, Melania, uma ex-modelo eslovena de 46 anos, dedica seu tempo a criar, longe da imprensa e da curiosidade pública, o filho do casal, Barron, de 10 anos.
O casal mora em um triplex na Trump Tower de Manhattan – quase um mini palácio – e viaja em um Boeing 757 particular, com seu sobrenome estampado em letras gigantes.
Os filhos mais velhos, Ivanka, Donald Jr., Eric e Tiffany, são os seus principais pilares. Todos se envolveram ao máximo na campanha do pai, a quem defendem até o fim.
Trump não é exatamente inflexível em sua ideologia: foi democrata até 1987, depois republicano (1987-1999), membro do Partido da Reforma (1999-2001), democrata outra vez (2001-2009) e novamente republicano.
Nascido em Nova York, Donald Trump é o quarto de cinco filhos de um promotor imobiliário nova-iorquino. Foi enviado a uma escola militar para tentar acalmar seu temperamento explosivo.
Depois de estudar Administração, passou a trabalhar na empresa familiar. Seu pai o ajudou com o que Trump chamou de "pequeno empréstimo de um milhão de dólares".
Ele assumiu o controle do negócio familiar em 1971 e impôs sua marca. Se o seu pai construía apartamentos para a classe média, ele preferiu as torres luxuosas, os hotéis cassinos e os campos de golfe, de Manhattan a Mumbai.
Duas semanas antes de assumir o poder, Trump convocou uma coletiva de imprensa em Nova York para anunciar que passaria o controle de seu império ao seus filhos Eric e Donald, para evitar conflitos de interesse.
Em sua carreira, apresentou e foi alvo de dezenas de processos civis vinculados a seus negócios.
O futuro presidente se negou a divulgar sua declaração de impostos – uma tradição para os candidatos à Casa Branca – e reconheceu a contragosto que não pagou impostos federais durante anos, depois de ter declarado uma perda colossal de US$ 916 milhões em 1995.