O ex-presidente de Portugal Mário Soares morreu neste sábado, aos 92 anos, em Lisboa. A informação foi confirmada pelo porta-voz do hospital da Cruz Vermelha, José Barata, onde estava internado desde o dia 13 de dezembro.
Depois de uma melhora passageira, seu estado de saúde piorou no dia 24 de dezembro, e no dia de Natal Soares já se encontrava em coma profundo. Porém, as causas da morte não foram informadas.
Segundo familiares, ele nunca chegou a se recuperar da encefalite, uma inflamação no cérebro, que sofreu em janeiro de 2013, e sua saúde se degradou ainda mais desde a morte da esposa, em julho de 2015.
Um dos fundadores do Partido Socialista de Portugal, em 1973, ministro das Relações Exteriores, duas vezes chefe de governo, presidente da República de 1986 a 1996 e eurodeputado, Soares foi um personagem marcante da democracia portuguesa. Advogado de formação, começou cedo na política, como opositor à ditadura de Antonio de Oliveira Salazar.
– Nunca me considerei especial. Sou uma pessoa normal – defendeu, em entrevista publicada em fevereiro de 2015.
Várias personalidades, incluindo o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o premier Antonio Costa, foram visitá-lo no hospital.
– Há figuras que marcam e marcarão nossa democracia. Não precisamos ser da mesma bandeira política para reconhecer o que fizeram pelo país – comentou no fim de dezembro o conservador Rebelo de Sousa.
– Minha geração sempre viveu em liberdade, e isto devemos, em grande parte, a Mário Soares – declarou o prefeito socialista de Lisboa, Fernando Medina, 43 anos, após visitá-lo.
Personalidade política incansável
Já com mais idade, o ex-presidente permaneceu muito atuante e criticou com veemência as medidas de austeridade colocadas em prática pelo antigo governo de centro-direita para sanear as finanças do país entre 2011 e 2014, sob a tutela da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Artífice da adesão de Portugal à UE, em 1986, denunciou, 25 anos depois, a falta de solidariedade dos grandes países europeus, que, segundo ele, "esqueceram o projeto dos pais fundadores" para se deixarem guiar por um "capitalismo selvagem".
Sem medo de ir contra a opinião pública, defendeu o ex-premier socialista José Socrates, investigado por um caso de corrupção há dois anos. Enfraquecido por seus problemas de saúde, assistiu, em julho, a uma cerimônia organizada em sua homenagem pelo governo socialista, mas não tomou a palavra.
Sua última aparição em público ocorreu em setembro, por ocasião de uma homenagem à sua mulher, a atriz e adepta da filantropia Maria Barroso. Casados em 1949, tiveram dois filhos, entre eles o ex-prefeito de Lisboa e ex-ministro da Cultura João Soares.
Filho de um padre que abandonou a batina, Soares se definia como agnóstico, mas permanecerá na memória dos portugueses como um homem de convicções firmes e uma figura política incansável. Seu papel foi particularmente importante no dia seguinte à Revolução dos Cravos, em 1974, um golpe de Estado que pôs fim a 48 anos de ditadura e 13 anos de guerras coloniais.
Superando o Partido Comunista de Alvaro Cunhal, Soares venceu as primeiras eleições livres organizadas em Portugal. Sua última batalha eleitoral, as eleições presidenciais de 2006, aos 80 anos, resultaram em um fracasso contra outro grande rival histórico, o conservador Anibal Cavaco Silva.
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