Em seu primeiro pronunciamento na Câmara dos Deputados como premier da Itália, Paolo Gentiloni deu indícios, nesta terça-feira, de que não pretende antecipar o fim da atual legislatura, como cobra a oposição e até o ex-primeiro-ministro, Matteo Renzi.
O novo chefe de governo afirmou que ficará no poder enquanto tiver a confiança do Congresso.
– Deixo para a dialética das forças políticas o debate sobre a duração do nosso governo. No que diz respeito a mim, o que vale é a Constituição: o governo durará enquanto tiver a confiança do Parlamento – declarou Gentiloni.
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A atual legislatura foi eleita em 2013 para um mandato de cinco anos, mas há uma crescente pressão para o Congresso aprovar rapidamente uma nova lei eleitoral e levar o país às urnas já em 2017. O populista Movimento 5 Estrelas (M5S) e a ultranacionalista Liga Norte exigem eleições no início do ano que vem, e o próprio Renzi defendeu publicamente a realização de um pleito o mais rápido possível.
A ideia de antecipar as eleições não agrada ao presidente Sergio Mattarella e nem a uma parte do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), sigla liderada pelo ex-premier e à qual pertence Gentiloni. Além disso, parlamentares em primeiro mandato precisam manter suas cadeiras ao menos até setembro para garantir a aposentadoria.
– O governo que se apresenta para receber a confiança é um governo de responsabilidade, garantidor da estabilidade das nossas instituições. E pretende concentrar todas as suas energias nos desafios da Itália e nos problemas dos italianos – disse Gentiloni.
O primeiro-ministro elogiou o "grande trabalho" de seu antecessor para "recolocar o país em movimento" e afirmou que Renzi merece o "respeito de todos". Ele também prometeu trabalhar em parceria com os Estados Unidos, principal parceiro da Itália no mundo, criticou as políticas de austeridade da União Europeia, disse que está pronto a intervir para garantir a estabilidade do sistema bancário italiano e declarou que atuará para impulsionar a economia do sul do país.
– Quem, como eu, sempre foi motivado pela paixão política, não se enxerga na degeneração dessa paixão. O Parlamento é o lugar do embate dialético, não do ódio. Quem representa os cidadãos deve disseminar segurança, não medo – acrescentou.
Durante o discurso, os deputados do M5S abandonaram o plenário em protesto, assim como os conservadores da Aliança Liberal Popular-Autonomias (ALA), grupo parlamentar liderado pelo senador Denis Verdini, ex-aliado de Silvio Berlusconi.
A ALA fazia parte da base de Renzi e chegou a negociar com Gentiloni para apoiá-lo, mas como não conseguiu emplacar nenhum ministro, decidiu passar à oposição. Sem os 18 votos de Verdini no Senado, a coalizão governista terá apenas 13 a mais do que a maioria simples na Casa.
Após o pronunciamento de Gentiloni na Câmara, os deputados devem votar a confiança a seu governo por volta de 18h45min (15h45min em Brasília). No Senado, a votação será nesta quarta-feira.