Mais de 3 mil pessoas foram retiradas, na manhã desta segunda-feira, do último reduto rebelde da zona leste de Aleppo, de acordo com uma fonte médica. Cerca de 20 ônibus transportaram as vítimas do conflito travado entre o regime de Bashar al-Assad e insurgentes contrários ao governo para a base de operações a oeste da cidade.
– Há entre 1,2 mil e 1,3 mil pessoas aqui, incluindo mulheres e crianças – afirmou o doutor Ahmad al-Dbis, diretor da unidade de médicos e voluntários que coordena a retirada.
Menos de duas horas depois, outros 25 veículos chegaram ao local, elevando o total para mais de 3 mil pessoas retiradas de Aleppo nesta segunda-feira.
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Ao mesmo tempo, quase 500 pessoas foram retiradas de duas localidades xiitas, Fua e Kafraya, sitiadas pelos rebeldes na província de Idlib, no noroeste da Síria, conforme o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
No domingo, vários ônibus que aguardavam para entrar nas duas localidades foram atacados e incendiados por homens armados de um movimento extremista, provocando a suspensão das operações. O grave incidente provocou a suspensão das operações nas três cidades.
Mesmo assim, no domingo, 350 pessoas conseguiram deixar Aleppo e chegar a Khan al-Assal, em território rebelde, a oeste da segunda maior cidade da Síria a partir da mediação da Rússia e da Turquia, segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Milhares de pessoas, no entanto, permanecem bloqueadas desde sexta-feira em Aleppo, reconquistada quase em sua totalidade pelo regime de Bashar al-Assad após uma violenta ofensiva aérea e terrestre de um mês, aliada a um cerco implacável desde julho.
No reduto rebelde ainda estariam quase 40 mil civis e entre 1,5 mil e 5 mil combatentes junto de suas famílias, conforme o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura. O novo acordo alcançado entre os beligerantes para evacuar Aleppo, Fua e Kafraya prevê que as operações aconteçam de forma sincronizada.
Após a conclusão da retirada de Aleppo, o regime proclamará a reconquista total da cidade, o que representará sua maior vitória desde o início da guerra em 2011, que deixou mais de 310 mil mortos e provocou o deslocamento de metade da população do país.
Em busca de um voto unânime na ONU
Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU deve se pronunciar, nesta segunda-feira, sobre um novo projeto de resolução que pretende garantir a retirada de civis e rebeldes no leste de Aleppo.
Após uma longa sessão de consultas a portas fechadas no domingo, os 15 membros do Conselho de Segurança chegaram a um compromisso para modificar um texto apresentado pela França e que chegou a ser ameaçado por um veto da Rússia. Mas à noite, o embaixador russo Vitali Churkin afirmou que era "um bom texto". A resolução será votada às 9h locais (12h, no horário de Brasília).
Moscou, grande aliado de Damasco, sempre vetou as resoluções do Conselho de Segurança, mas desta vez a embaixadora americana Samantha Power afirma que espera uma "votação unânime" a favor.
O embaixador francês François Delattre disse que os 15 países encontraram uma "área de entendimento" para um texto de compromisso.
No último rascunho do projeto, obtido pela AFP, há uma demanda para que "a ONU e outras instituições pertinentes que supervisionem de maneira adequada, neutra e direta as retiradas dos bairros do leste de Aleppo". A ONU deverá, para isto, "enviar funcionários adicionais".