Cuba, 1º de janeiro de 1959. Aproveitando a virada do Ano-Novo, o ditador de direita Fulgencio Batista foge do país, abandonando a ilha que havia governado por três vezes a partir da década de 1930.
Sete dias depois de Batista escapar pelos fundos, Fidel Castro entra triunfalmente na capital, Havana, com seus guerrilheiros barbudos, iniciando outra ditadura – desta vez, de esquerda.
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O pêndulo que provoca a guinada ideológica no arquipélago começara a ser movido seis anos antes. Em 26 de julho de 1953, o jovem advogado Fidel, então com 27 anos, ataca o quartel de La Moncada, em Santiago de Cuba. A ofensiva é um desastre militar – o exército massacra os cerca de 150 conspiradores, e os poucos sobreviventes são presos, inclusive Fidel –, mas se torna uma vitória política. Ironicamente, o fracasso de La Moncada consolida o Movimento Revolucionário 26 de Julho.
Enquanto Batista se atola em um lodaçal de corrupção, Fidel e o irmão Raúl Castro, que hoje dirige a ilha, tramam no México, onde haviam se exilado após serem libertados. No final de 1956, já com o reforço do argentino Ernesto Che Guevara, embarcam no barco Granma para invadir Cuba. Mais percalços: não bastasse uma tempestade que desvia a trajetória da embarcação, forçando o desembarque longe do local previsto, a aviação de Batista aparece cuspindo fogo em voos rasantes. Dos 82 navegantes, somente Fidel, Raúl, Guevara e mais nove se salvam da artilharia.
A tenacidade que Fidel demonstrou aferrando-se ao poder por quase meio século já vigora no malogrado desembarque de 2 de dezembro de 1956. Os pilotos regressam à base aérea convictos de que pulverizaram os tripulantes do Granma. Enganam-se: o punhado de sobreviventes consegue se refugiar nas matas da Sierra Maestra.
Os guerrilheiros começam descendo a montanha para ataques-relâmpago, voltando ao esconderijo com novos adeptos. Não é difícil arregimentar agricultores insatisfeitos com o regime de Fulgencio Batista. Na década de 1950, 37,5% dos cubanos não sabem ler nem escrever. Fidel ocupa o vazio do poder público, monta uma emissora de rádio, um pequeno hospital, dá assistência ao moradores.
Em 1957, tropas do exército tentam desentocar os rebeldes, que seguem distribuindo fuzis para voluntários que chegam à Sierra Maestra. Ao mesmo tempo, estalam novos focos de rebelião pela ilha, com atentados, sabotagens, greves. A Sierra Maestra vira uma trincheira, e os soldados de Batista são repelidos em sucessivos combates.
No ano seguinte, Fidel já é uma ameaça concreta e o pêndulo começa a se deslocar. Irrompem mais colunas guerrilheiras nas zonas montanhosas da ilha. Os tiros detonados na Sierra Maestra ecoam pelo país. Meio no desespero, Batista mobiliza 10 mil homens, acreditando que exterminaria a guerrilha.
No final de 1958, os barbudos de boina preta deixam a montanha e se espalham pelas províncias. Mesmo políticos tradicionais reconhecem a liderança de Fidel. Os subcomandantes Che Guevara e Camilo Cienfuegos se projetam.
Encurralado e perdendo aliados, Batista foge. Em uma manobra derradeira, o general Eulogio Cantillo tenta instalar uma junta cívico-militar e formar um governo de coalizão. Fidel não aceita: rende a guarnição de Santiago de Cuba, convoca uma greve geral e toma Havana sem enfrentar resistência. O pêndulo se imobiliza no pólo esquerdo.