O embaixador Carlos Márcio Cozendey, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, afirmou, nesta sexta-feira, que um eventual acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) só deve ser finalizado em 2018. Em evento para comemorar os 40 anos da Funcex, ele apontou que o acordo provavelmente só será finalizado após as eleições na França e Alemanha que ocorrem em meados do próximo ano, mas que as discussões técnicas já foram recuperadas e estão a todo vapor.
Cozendey alertou ainda que os diversos acordos comerciais que o governo vem estudando devem ser vistos como formas de melhorar a produtividade brasileira, promovendo mudanças estruturais de longo prazo, e não como um impulso para a atividade no curto prazo.
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O embaixador também alertou que, se o acordo com a UE de fato sair, será preciso pensar em programas de ajuste ao comércio, ou seja, iniciativas que auxiliam setores afetados negativamente por esse tipo de tratado.
– O Brasil nunca precisou fazer isso, porque quando da criação do Mercosul a gente vinha da abertura comercial unilateral feita pelo Collor. Além disso, somos a maior economia do bloco, então na verdade foram os outros que se ajustaram à gente – comentou.
Participando do mesmo evento, o economista Roberto Giannetti da Fonseca, que já foi diretor da Funcex, apontou que as únicas formas de o Brasil sair da atual espiral recessionária são investimento em infraestrutura e voltando-se para o mercado externo.
– Nossas indústrias estão com quase 40% de capacidade ociosa, temos 12 milhões de desempregados e o resto do mundo (fora o Brasil) representa 97% do PIB global. Não é possível que a gente não consiga aproveitar esse cenário – afirmou.
Ele ressaltou, porém, que o Brasil precisa de um câmbio mais competitivo e estável.
– Precisamos de uma política cambial favorável, o que não tivemos nos últimos 20 anos. Desde a criação do plano real há uma tendências das autoridades de usar o câmbio para segurar a inflação.
O especialista apontou ainda que as empresas brasileiras precisam se internacionalizar, já que hoje em dia quase 50% do comércio global é feito intracompanhia. Ele também cobrou mais apoio do governo, com a volta total do Reintegra e do Proex.
– O financiamento à exportação é essencial para produtos manufaturados de alto valor agregado. Ninguém compra trator à vista – apontou.
Fernando Pierri, Superintendente Executivo de Global Transaction Banking (GTB) do Banco Santander, lembrou que o banco nasceu justamente com a vocação de ajudar empresários espanhóis a exportar para a América Latina e ressaltou a linha de produtos da instituição voltados para o setor. Ele reconheceu que o sistema bancário brasileiro ainda carece de produtos mais acessíveis para empresas de pequeno e médio porte, mas indicou que isso já começa a mudar.
– Este ano muitas empresas, especialmente de infraestrutura, nos procuraram para obter financiamentos tendo como garantias cartas de agências de crédito à exportação, como o US Ex-Im Bank. Era um mercado que estava muito ligado a grandes empresas e hoje temos visto transações de volumes menores, a partir de US$ 5 milhões.
*Estadão Conteúdo