O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quinta-feira um aumento de 40% no salário mínimo dos trabalhadores, na véspera de uma greve geral convocada para sexta-feira pela oposição para pressionar por sua saída do poder.
– Decreto e assinarei 40% de aumento integral do salário mínimo legal dos trabalhadores – manifestou Maduro em um ato público de entrega de casas.
Esse montante, de 90.911 bolívares (US$ 137,8), inclui o salário – que sobe 20% até chegar a 27.091 bolívares – e um adicional de alimentação, de 63.720 bolívares. O reajuste do salário básico inclui os aposentados.
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É o quarto aumento do salário mínimo desde o início de 2016, em meio ao clima de tensão pela escalada da oposição para tirar Maduro do poder por meio de um referendo revogatório.
Como parte dessa ofensiva, a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) convocou para esta sexta-feira uma greve geral de 12 horas. Maduro garantiu que as empresas que pararem suas atividades sofrerão uma intervenção do governo.
– Não vou duvidar, nem vou aceitar nenhum tipo de conspiração. Empresa parada, empresa recuperada – advertiu o presidente, que enfrenta uma crise econômica agravada pela queda do preço do petróleo.
A commodity é responsável por 96% das divisas do país.
O salário mínimo aumentou 454% em 2016, destacou Maduro, ressaltando que essa cifra está "muito acima da inflação".
O índice oficial de inflação não é divulgado pelo governo desde o final de 2015. No ano passado, chegou a 180,9%, o mais alto do mundo. Para 2016, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta inflação acumulada de 475%.
Maduro reiterou que a greve convocada para esta sexta faz parte de um complô para derrubá-lo.
– Conhecemos a história dos golpes de Estado por inteiro – acrescentou.
Na quarta-feira, milhares de opositores marcharam em Caracas e em várias cidades do país para exigir que o Conselho Nacional Eleitoral anule sua decisão de suspender o processo de revogatório.
Seus dirigentes também anunciaram uma passeata para 3 de novembro rumo ao Palácio presidencial de Miraflores, caso a consulta não seja reativada. Ao mesmo tempo, a maioria opositora no Parlamento pretende declarar "abandono do cargo" por parte de Maduro.
Presidente chamou opositor de "assassino"
Também nesta quinta-feira, Maduro chamou de "assassino" o líder opositor Henrique Capriles, ao culpá-lo pela morte de um policial e acusá-lo de planejar uma "invasão" ao palácio presidencial.
– Assassino, assim te chamo em frente ao país – exclamou Maduro referindo-se a Capriles, a quem vinculou à morte a tiros na quarta-feira de um policial em uma estrada nos arredores de Caracas. – Quem criou esta violência? O chamado do governador de Miranda, Capriles. Ele é o responsável desta morte, porque ele convocou a invadir o Palácio de Miraflores – defendeu.
A oposição venezuelana realizou na quarta-feira grandes manifestações em todo o país, em rejeição à suspensão de um processo de referendo revogatório contra Maduro, e anunciou uma nova marcha para 3 de novembro até o palácio de Miraflores para exigir a ativação desta consulta.
Para esta sexta-feira convocou uma greve geral de 12 horas. O governante assegurou que tem aversão a uma "gente que lamentavelmente tomou o caminho do ódio, da intolerância", e embora a considere "uma minoria" disse que "com o desejo de sangue e violência que têm podem fazer muito dano".
– Entraram em uma fase de desespero sem precedentes. Temos que defender o direito à paz – acrescentou Maduro, ao reiterar que participará neste domingo, na ilha de Margarita, de uma reunião apoiada pela Unasul e pelo Vaticano para explorar um diálogo com a oposição. – No próximo domingo, chova ou relampeie, vou participar da mesa de diálogo. A via da Venezuela é o diálogo – destacou o presidente.
Contudo, a oposição, reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD), descartou sua participação nesta cúpula, que pediu que fosse realizada em Caracas.