Grã-Bretanha, França e Estados Unidos criticaram a Rússia, neste domingo, em reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, após mais uma noite de bombardeios aéreos em Aleppo. As ações na cidade síria foram realizadas por forças do governo local e dos aliados russos.
A chuva de bombas já deixou pelo menos 124 mortos, 25 deles ao amanhecer deste domingo, segundo balanço divulgado pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Entre as vítimas, estão 19 crianças e mulheres soterradas pelos escombros de prédios destruídos.
Grã-Bretanha, França e Estados Unidos convocaram o Conselho para aumentar a pressão sobre a Rússia, tentando frear o governo de Bashar al-Assad em sua campanha de bombardeios nos bairros rebeldes da cidade síria.
– Crimes de guerra estão sendo cometidos em Aleppo – disse o embaixador da França, François Delattre, à imprensa. – Não devem ficar sem castigo. A impunidade simplesmente não é uma opção na Síria – acrescentou.
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O embaixador britânico, Mattew Rycroft, também criticou os bombardeios.
– As munições incendiárias lançadas em Aleppo são indiscriminadas e uma clara violação às leis internacionais, assim como as bombas de barril que caem dos céus – afirmou o diplomata.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou "todas as partes envolvidas" para trabalhar contra o "pesadelo".
– Por mais quanto tempo aqueles que têm influência vão permitir que essa crueldade continue? – questionou.
Entenda o caso
Os países ocidentais tentam frear a ofensiva lançada na sexta-feira pelo governo sírio e por Moscou para reconquistar os bairros insurgentes de Aleppo. A embaixadora americana, Samantha Power, indicou que houve mais de 150 bombardeios sobre a cidade nas últimas 72 horas.
– O que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista. É barbárie – sentenciou.
Já o seu homólogo russo, Vitali Tchurkin, responsabilizou a coalizão internacional pelo ambiente em Aleppo.
– Centenas de grupos foram armados, o país bombardeado sem critério – comentou. – Nessas condições, trazer a paz é, em consequência, uma tarefa quase impossível – completou.
Na véspera, Ban Ki-moon já havia se declarado "consternado" com a "assustadora escalada militar" e advertiu que o uso de armas avançadas constitui crime de guerra.
"Não preguei o olho", diz morador
Morador do bairro rebelde de Al Kallassé, Ahmad Hajjar, 62 anos, relatou que os bombardeios "não pararam a noite toda".
– Não preguei o olho até as 4h – contou.
Hajjar destacou que sua rua está cheia de bombas de fragmentação que não explodiram.
– Um vizinho foi morto por uma delas. Eu o vi tropeçar nela, ela explodiu e arrancou suas pernas e braços. Foi uma cena horrível – recordou.
– Não sei por que o regime nos bombardeia dessa maneira selvagem. Não temos para onde ir – observou Imad Habbouche, que mora no bairro de Bab Al-Nayrab.
As 250 mil pessoas que moram nas áreas rebeldes não recebem ajuda externa há quase dois meses e não têm acesso à água corrente desde sábado por causa dos bombardeios, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A União Europeia denunciou "uma violação inaceitável da lei humanitária internacional". Em um comunicado comum do bloco, Estados Unidos e os chanceleres de França, Itália, Alemanha e Grã-Bretanha apontam claramente a Rússia como responsável pela retomada dos combates. "A Rússia deve provar que está disposta e que é capaz de tomar medidas excepcionais para salvar os esforços diplomáticos", afirma a nota.
A coalizão da oposição síria no exílio pediu, em Istambul, que a comunidade internacional aja para acabar com o massacre. A frágil trégua negociada por Estados Unidos e Rússia se manteve apenas por uma semana, até a segunda-feira passada. Desde então, os esforços diplomáticos realizados no âmbito da Assembleia Geral da ONU fracassaram.
Neste domingo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a Turquia está disposta a participar de uma operação com os Estados Unidos para expulsar os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) de Raqqa, no norte da Síria, desde que as milícias curdo-sírias não façam parte dessa força.
*AFP