O diretor da empresa aeroespacial SpaceX, Elon Musk, revelará nesta terça-feira (27) na cidade mexicana de Guadalajara seu ambicioso plano para construir uma colônia humana em Marte, uma aventura que segundo especialistas requer um investimento milionário.
Musk revelará seu projeto durante a apresentação "Fazer dos humanos uma espécie multiplanetária" no Congresso Internacional de Astronáutica que é realizado em Guadalajara.
Este empresário americano-canadense nascido na África do Sul deu detalhes de seu projeto a conta-gotas, mas em junho passado prometeu em uma entrevista ao jornal The Washington Post que será algo "alucinante".
Em sua apresentação, exporá "os desafios a longo prazo que precisam ser resolvidos para promover uma presença humana permanente e autossustentável em Marte", segundo o programa da conferência.
A SpaceX planeja enviar uma cápsula não tripulada Dragon a Marte em 2018 com o objetivo de abrir caminho para uma missão tripulada que partiria da Terra em 2024 e chegaria ao planeta vermelho no ano seguinte.
"Objetivos agressivos"
Mas para os especialistas, chegar a Marte - a uma distância média de 225 milhões de quilômetros da Terra - e viver lá exigiria uma verdadeira proeza de engenharia e um investimento enorme.
"É improvável que (Musk) seja capaz de levar humanos para Marte em 2025", considera John Logsdon, ex-diretor do Instituto de Política Espacial na Universidade George Washington.
Logson lembra que Musk já programou erroneamente lançamentos de foguetes SpaceX e assinala que a empresa teria que se associar com uma agência espacial governamental para financiar semelhante missão.
"Primeiro que tudo é caro. Estamos falando de muitos bilhões de dólares e a SpaceX não tem essa quantidade de dinheiro", assinala o especialista.
Mas o astronauta aposentado Leroy Chiao apontou que Musk "acumulou um grupo de peritos técnicos e operacionais, e que a SpaceX está gerando receitas a partir de lançamentos de foguetes".
"Elon Musk fixa objetivos agressivos e ainda que nem sempre consiga na data exata, normalmente é capaz de alcançá-los. Eu diria que é possível", disse Chiao à AFP.
A agência espacial americana, Nasa, que também pesquisa os efeitos no corpo humano de um voo espacial prolongado, anunciou seus próprios planos de enviar missões tripuladas para Marte na década de 2030.
O diretor da Agência Espacial Europeia, Jan Woerner, assinalou em Guadalajara que poderia construir uma aldeia de pesquisa na Lua como um primeiro "degrau" até a missão para Marte.
"Ir a Marte envolve utilizar recursos lá e isso pode ser experimentado na Lua", assinalou durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira (26).
Competência espacial para o mercado
A SpaceX não é a única empresa que sonha em enviar pessoas para Marte.
A Blue Origin, fundada pelo diretor da Amazon, Jeff Bezos, revelou este mês seus planos de construir um foguete massivo chamado New Glenn para enviar humanos ao espaço. Mas o empresário assegurou que ir ao planeta vermelho poderia levar décadas.
"Queremos que milhões de pessoas vivam e trabalhem no espaço em algumas décadas, se assim desejarem", disse à AFP Rob Meyerson, presidente da Blue Origin.
Esta companhia, autora de um foguete que já realizou aterrissagens verticais, está concentrada em achar uma forma de levar as pessoas ao espaço continuamente e a um menor custo.
A Blue Origin compete com a empresa espacial Virgin Galactic, do milionário britânico Richard Branson, na corrida para fazer viagens turísticas ao espaço.
Mas ao perguntá-lo em Guadalajara se Marte estava dentro de seus objetivos, o diretor-executivo da Virgin Galactic, George Whitesides, disse: "Minha visão e a de Richard é que vamos estar muito focados no planeta Terra em um futuro próximo".
Enquanto a Virgin Galactic apresentou neste mês uma nova nave espacial com asas, a SpaceX e a Blue Origin lançaram foguetes que podem aterrissar verticalmente, uma conquista-chave que poderia reduzir os custos das viagens ao espaço, pois os foguetes seriam reutilizáveis.
A SpaceX desenhou o poderoso foguete Falcon Heavy, que poderia levar ao espaço a nave tripulada Dragon.
A empresa espera lançar no final deste ano o foguete de 70 metros de comprimento, que tem um impulso equivalente a 18 Boeing 747 juntos.
A SpaceX sofreu um revés em 1 de setembro quando seu foguete Falcon 9 explodiu durante um lançamento de teste na Flórida.
Mas a empresa, com sede na Califórnia, realizou antes do acidente 18 lançamentos do Falcon 9 que deram certo, e por quatro vezes conseguiu pousá-lo estando intacto.
lth/yo/jb/cb/cc