O presidente americano Barack Obama e dezenas de líderes de todo o mundo prestaram nesta sexta-feira em Jerusalém uma última homenagem ao ex-presidente israelense Shimon Peres, com a esperança de que perdurem os seus sonhos de paz.
O caixão com o corpo de Peres foi enterrado ao meio-dia (hora local) no cemitério do monte Herzl de Jerusalém, a poucos metros da sepultura de outro vencedor do Nobel da Paz, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense assassinado por um judeu extremista em 1995.
O funeral de Shimon Peres, que faleceu na quarta-feira aos 93 anos, foi uma homenagem emocionante a um dos fundadores do Estado de Israel e artífice dos Acordos de Oslo que deveriam preparar o caminho para a paz com os palestinos e os árabes.
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A presença de Obama, dos presidentes da França e Alemanha, do príncipe Charles da Inglaterra, do rei da Espanha e até mesmo do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, demonstra o imenso respeito em relação a Peres, que teve 70 anos de carreira política, em todos os postos, de primeiro-ministro a ministro da Defesa, das Relações Exteriores e presidente.
Em seu elogio fúnebre, Obama exaltou um homem que trabalhou com nove presidentes americanos antes dele e que o recorda outros "gigantes do século XX", como "Nelson Mandela" ou "mulheres como sua majestade a rainha Elizabeth da Inglaterra".
Sonho não realizado
Mas Obama iniciou o discurso, diante de Mahmud Abbas e do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, com a constatação de que a paz com a qual Peres tanto sonhava continua sendo uma "tarefa inacabada".
Peres estava convencido de que a segurança a que aspira Israel passa pela paz com os árabes e os palestinos, e a criação de um Estado palestino, disse Obama.
– Sabemos que Shimon nunca viu concretizado seu sonho de paz – completou, no momento em que a perspectiva da independência palestina parece mais afastada que nunca.
Obama não se prolongou e concluiu em hebraico com um "Shalom haver iakar" (adeus, querido amigo).
Antes de Obama, Netanyahu saudou Peres como um "grande homem" para Israel e para o mundo e, olhando para o caixão do ex-adversário, disse:
– Vá em paz Shimon, homem querido, líder excepcional.
Ao mesmo tempo, admitiu que, na sua visão, a segurança vem antes da paz.
– Seus detratores o criticavam por ser um sonhador ingênuo e exageradamente otimista – disse o ex-presidente americano Bill Clinton, que presidiu em 1993 o histórico aperto de mãos dos inimigos israelense e palestino. – Estavam equivocados apenas no que diz respeito à ingenuidade. Sabia exatamente o que fazia ao ser exageradamente otimista – completou, emocionado, no local em que assistiu há 21 anos o enterro de outro amigo, Yitzhak Rabin.
O sonho de Peres esteve presente em todos os discursos, que também destacaram seu otimismo, sua fé no futuro, seu carisma e humor.
Os filhos destacaram sua sabedoria. Um deles, Yoni, provocou sorrisos ao contar que o pai dizia:
– Para meu fúnebre, comece dizendo 'era muito jovem para morrer' –.
Peres, vítima de um acidente vascular cerebral, era o último sobrevivente dos três vencedores do Nobel da Paz de 1994, ao lado de Rabin e do palestino Yasser Arafat, que premiou seu envolvimento com o Acordo de Oslo.
O acordo estabelecia as bases de uma autonomia palestina e oferecia a esperança, atualmente muito distante, de resolver o conflito israelense-palestino.
Aperto de mãos de Abbas e Netanyahu
Apesar de Oslo e da conversão à paz do antigo falcão, os palestinos têm uma visão mais sombria de Peres, como instigador da colonização judaica e homem de guerra e da ocupação.
Ninguém tinha certeza, a princípio, se Abbas compareceria ao funeral. Foi necessária a morte do homem que negociou os Acordos de Oslo para que ele fizesse a primeira aparição pública em Jerusalém em muitos anos, o que motiva críticas dos palestinos.
Em meio aos elogios internacionais, os governantes dos países árabes, onde as opiniões são majoritariamente solidárias aos palestinos, optaram pelo silêncio.
O Egito, um dos dois países árabes a assinar a paz com Israel, enviou ministro das Relações Exteriores, Sameh Shukry, que foi ao lado do presidente palestino o principal representante árabe.
Ao chegar ao monte Herzl, Abbas apertou a mão de Netanyahu, com quem conversou rapidamente. Os dois não se reúnem desde 2010.
Para os israelenses, Peres era o último sobrevivente da geração dos pais fundadores do Estado hebreu. Ele se tornou em seu país uma personalidade de amplo consenso, considerado um sábio da nação.
O grande número de personalidades em Jerusalém obrigou a polícia israelense a estabelecer uma operação de segurança sem precedentes.
Israel não registrava um evento semelhante pelo menos desde o funeral de 1995 de Yitzhak Rabin.